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sexta-feira, 11 de maio de 2007

Ainda Sobre a Questão da Não-Inscrição



S


ó uma nota sobre o post de Sweetjane, ou de José Gil, ou lá quem foi (confundo-os aos dois, e tenho de fazer-lhes perguntas-teste para os distinguir ao telefone, por exemplo, já que fazem gosto em não se identificar).

Não tenho dúvidas acerca da importância do papel de Portugal. Seja ele muitas ou poucas vezes "inscrito", ou médias.

O nosso drama - nós, as pessoas que todas juntas fazem Portugal - é o "entrementes". O que eu quero dizer com isto é que o que é dramático é não termos guião para o "intervalo", e que essa é a fonte de todas as "não-inscrições", e frustrações e sensações de impotência. O que estou a dizer é que Portugal serve para ser chamado nas alturas maiores. O problema das alturas maiores é que não estão sempre a acontecer, e há grandes espaços de tempo entre cada "altura maior". A isso eu chamei, atrás, de intervalo.

Nas alturas maiores, Portugal responde e irá responder, como soube já responder, e vai saber o que fazer e como o fazer, de uma forma de tal modo inata, que todos irá deixar caídos em espanto.

Mas não estamos numa altura maior. Estamos em intervalo. E de tal modo importante é o papel de Portugal, que Quem lho outorgou descurou de pensar em qualquer outro papel para quaisquer outros momentos que não os que Tinha em mente.

Por isso a nós cabe simplesmente saber preencher melhor esta "ponte". É apenas isso. Conseguido esse desiderato resolver-se-á boa parte da frustração, e da "não-inscrição", e de todas essas coisas que, na realidade, são de somenos importância.

Porque, para o que está para vir, estamos mais do que preparados.

Porque já fomos escolhidos. E lá no fundo sabemo-lo.

"Uneasy Lays The Head That Wears a Crown"


F


oi a forma de Henrique IV nos dizer "Olhem que ser Rei também é só nervos".

Acho que compreendo o que Henrique queria dizer. Deve haver muita chatice para tratar, e tudo isso... Mas, Henry - não sei se lês este blog -, posso assegurar-te de que há muita coisa que nos pode causar uma vida de nervos, mesmo (principalmente?) quando não se é Rei, que é o meu caso.

Claro que pode acontecer que eu esteja reading too deep into Henry's words. Se calhar ele está simplesmente a dormir com a Coroa na cabeça, e a queixar-se de que isso o incomoda (marcas na testa por causa do corte da circulação... parte superior da orelha que fica na almofada trilhada... etc.)

Henry, aconselho-te a tirar a coroa quando dormes. De qualquer maneira, ninguém está a ver.

quarta-feira, 28 de março de 2007

O Meu Problema Com Deco


N


ão sigo religiosamente a vida da Selecção Nacional, mas tento estar a par do mínimo indispensável: saber quem decidiu abandonar a Selecção por estar em fim de carreira, em quanto vão e de onde vêm as ofertas de clubes para os maiores talentos da Selecção, quem são as novidades que pela primeira vez se estreiam em cada jogo envergando a camisola das quinas, quem está magoado ou em dúvida para dar contributo no próximo jogo, etc. .

Agora, quando os jogadores não me deixam estar a par do tal mínimo indispensável, aí eu vou aos arames.

Quando digo que não me deixam estar a par, estou a referir-me especificamente aos jogadores que, pura e simplesmente, desconversam. E o maior jogador de todos os tempos a desconversar é, sem dúvida, Deco.

Eu explico melhor. Véspera do jogo com a Sérvia: Cristiano Ronaldo é citado nos jornais como tendo vindo descansar os adeptos da Selecção, esclarecendo que “foi só um susto, e estou bem, e vou jogar”. No mesmo dia, por que motivo surge Deco na imprensa? - “Deco denuncia 926 zonas perigosas em Portugal”.

“Zonas perigosas”? Talvez se refira ao meio-campo da Selecção, pensei eu… Como não foi convocado, está a analisar tacticamente a Selecção... Mas achei estranho. Será que se conseguem identificar 926 zonas no meio-campo? Pareceu-me estúpido. Mas lendo com mais atenção, percebi que Deco se referia a “zonas de perigo nas estradas”, fruto de uma “pesquisa” que terá levado a cabo “entre Maio e Fevereiro”, após a qual terá concluído que “os problemas em 650 das estradas continuam por resolver”.

Mas o que é que este jogador anda a fazer?! A jogar futebol, ou a analisar as estradas?!... E como é que o Barcelona lhe dá o tempo suficiente para andar a analisar as estradas em Portugal, país onde nem sequer Deco reside?!

Mas Deco não é novo nestas situações… Pode estar-se à beira de grandes jogos, não importa.... : Deco surge na comunicação social portuguesa a propósito de coisas que não têm nada a ver com o jogo, nem com o clube, nem com futebol... Mas isto compreende-se?!

Pouco antes do jogo entre Benfica e Barcelona da passada edição da Liga dos Campeões, enquanto jogadores de um e de outro clube vinham a terreiro antecipar o embate, Deco surgia nos jornais identificando… "(...) o melhor seguro disponível em Portugal, para o ramo Multi-Riscos/Habitação", distinguindo as soluções "para quem vive em apartamento" de outras "mais adequadas a quem vive em outro tipo de habitação".

A minha pergunta é: onde é que anda a cabeça deste jogador?!

Diz-se que Scolari já não conta com Deco na Selecção, por considerar que o jogador poderia perfeitamente ter adiado a operação à mão a que foi sujeito, de modo a estar disponível para o passado jogo com a Bélgica e para o de hoje, frente à Sérvia. Mas na minha opinião, os motivos de Scolari são outros: não é, simplesmente, razoável obrigar o Seleccionador a trabalhar com um jogador que está mas é mais preocupado em fazer "estudos" pelos quais vem depois "concluir" que “os médicos receitam antibióticos a mais, e que muitas farmácias os vendem sem prescrição” (sic).

Quanto a mim, o que aconteceu é que Scolari se fartou.

E com toda a razão.

quarta-feira, 21 de março de 2007

Coisas A Fazer Se Está Aborrecido

N


a sociedade actual, onde à hiper-conectividade técnica se contrapõe a dramática sub-conectividade social, não são poucas as vezes em que o indivíduo dá por si vítima do tédio e da chateação difusa. Daí à agressão dirigida a pessoas inocentes - muitas vezes aquelas de quem mais gostamos - vai um passo muito pequeno, que urge evitar.

F.I.D.S., como sempre, está de estetoscópio encostado ao peito da sociedade civil, identificando sibilos, controlando a sístole cívica e cronometrando a diástole social. Às vezes até fazemos gráficos e apresentações PowerPoint, que, não raras ocasiões, enviamos a Steve Jobs (até agora, Jobs nunca nos respondeu, provavelmente por não falar português).

Mas nada disto vem agora ao caso. Seguem-se sugestões F.I.D.S. para contrariar o tédio ou a revolta contida, seja pela vida em geral, seja por aquela cabra que o anda a chatear no emprego, ou por aquela puta envernizada que, sem uma razão perfeitamente identificável (e quem diz que é preciso?), simplesmente o irrita...

Sugestão 1) Faça o estilo alce:

Sugestão 2) Mister elefante:


Sugestão 3) Choque a sua sogra com a avestruz:

Sugestão 4) Aqui vem o canguru:

Sugestão 5) Cansado? Faça a foca:

Sugestão 6) Sem energia? Mister frog

Sugestão 7) O esquilo é um clássico:

Sugestão 8) Arranje vida própria

terça-feira, 13 de março de 2007

"Por falta de apoios, espantalho já não vai ao Guinness"


À


primeira vista, julguei que a notícia tivesse a ver com o acompanhamento do processo de despedimentos em massa na Administração Pública que o nosso Governo leva actualmente a cabo. Pensei que o título daria conta de que o Primeiro-Ministro se está a atrasar, sabendo-se que, a meio do mandato, ainda lhe falta pôr na rua um pouco mais de 69.000 pessoas para cumprir os ambiciosos objectivos que estabeleceu há coisa de dois anos atrás. O tempo começa a escassear, e o espantalho correria o risco de ”não ir ao Guiness”, em sentido metafórico.

Mas não. A notícia tem a ver com espantalhos normais, daqueles que vestem mal. Daí que eu tenha descoberto logo à terceira linha que a notícia não poderia ter a ver com José Sócrates. Então se eu falhei por ter percebido mal, porquê estar agora a escrever sobre a notícia? É que mesmo não tendo directamente a ver com o Primeiro-Ministro, não consigo deixar de pensar que a frase “Espantalho já não vai ao Guiness” resume extraordinariamente bem não só o estado actual do nosso país, como o estado psicológico da maioria dos portugueses.

De certo modo, estamos a tornar-nos num grande espantalho europeu, e resta-nos agora apostar (dentro do reduzido leque de possibilidades que se colocam a uma figura tão pouco polivalente como um espantalho) em diferenciar-nos pelo tamanho físico: Ena!, só de imaginar um dia sermos “o maior espantalho da Europa, ou talvez até do MUNDO!!”… A agro-pecuária francesa, a indústria alemã, a banca espanhola, todos eles vergados perante nós, reconhecendo humildemente: “Sim senhor, que grande espantalho tendes! É obra, temos de reconhecer!”. Tomem lá e embrulhem!, disto não sabem vocês fazer.

Refere a notícia que, no final da nona edição do “Macinhata Espanta”, no ano passado, as organizadoras do evento, cansadas e desiludidas, “(…) já nem sequer recolheram as centenas de espantalhos, espalhados pela freguesia. “Deixámo-los morrer como morrem os espantalhos: deitados no chão”, dizem, lamentando nunca ter havido a preocupação de colocar placas de localização do evento.” Com Portugal é a mesma coisa: parece nem sequer haver a preocupação de colocar placas de sinalização alertando para o facto de ainda existirem pessoas dentro do País. É que ainda sobram algumas, embora se reconheça que só atrapalham.

A emergência deste novo modelo de desenvolvimento para Portugal já tem, aqui e ali, os seus ecos. A espantalhofilia, como novo paradigma de especialização produtiva, parece encontrar apoio em personalidades como o Prof. César das Neves, que ainda ontem, no DN, alertava para o facto de os portugueses viverem excessivamente preocupados com realidades longínquas, que, bem vistas as coisas, não só não lhes dizem respeito, como também não têm impacto real nas suas vidas práticas. Os portugueses, elabora o Prof. César das Neves, preocupam-se em julgar sumariamente as acções de pessoas que não conhecem pessoalmente, de Bill Gates até membros do Governo, intoxicados que estão pela opinião em segunda mão de “comentadores” de autoridade questionável. O Prof. César das Neves prossegue indignando-se com o facto de qualquer “merceeiro” ou “taxista” se arrogar o direito de julgar acontecimentos que se passam lá muito longe, protagonizados por pessoas que nem o taxista nem o merceeiro conhecem. Não se limitando a criticar, o Prof. César das Neves ajuda a procurar uma via melhor, e é então que vem defender o regresso nostálgico a uma espécie de “media de proximidade”, referindo, a título de exemplo, a “botica da esquina”, onde, até há bem poucos anos atrás, bastava entrar para se ficar a saber tudo o que realmente importava para a vida de cada um. No fundo, digo eu, trata-se de desligar a CNN e ir mas é à Dona Aurélia.

Da tese do Prof. César das Neves à economia do espantalho que aflorei ao início, é um salto muito pequenino, mas que urge dar se queremos apanhar o nosso lugarzinho no grande comboio europeu (ainda que no vagão das mercadorias).

Num país onde menos de um terço da população activa tem o Ensino Secundário completo, o que o Prof. César das Neves parece vir propor é que ninguém vá além da sua chinela, e que cada um se preocupe mas é com o que lhe diz respeito, ou seja, com o que acontece no seu bairro, e com as pessoas que cada um conhece pessoalmente.

O país do maior espantalho do mundo, António Oliveira Salazar como “Grande Português”, o recentramento da opinião crítica dos portugueses no bairro de residência… Já não era sem tempo vermos começar a emergir um novo padrão de modernidade para Portugal.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Resposta a SweetJane

N


ão desfazendo, és mesmo doida, Sweetjane.

Então não querem lá ver que ela para sublimar os sentimentos de culpa, o melhor que arranja é comprar a CAIS ao droguinhas entaramelado mais próximo, com olhos de carneiro mal morto? Please...

Ó Jane, eu também não sei qual é a receita para endireitar o mundo, mas tenho quase a certeza de que não passa pela revista CAIS. É cá um feeling.

Esse desconforto que dizes sentir em relação à situação menos favorecida de outros, se é sincero, será apenas sinal de que tens uma consciência. Perguntarás "e depois? Fico sentada em cima dessa consciência?"... Claro que não. Gandhi disse "sê a mudança que queres ver no Mundo." Ora, o mais bem-intencionado de nós sentirá sérias dificuldades em implementar esse comportamento, aparentemente tão simples (só aparentemente). Isto porque somos humanos, e extremamente vulneráveis à tentação perversa de repercutir para com os outros os comportamentos que neles mais criticamos, pela simples razão de que "foram eles quem começou". E deste modo a mediocridade, a má-criação, a antipatia e outros "pequenos holocaustos" (obrigado, P. Oliveira) florescem mesmo através de quem não os tem inscritos na sua maneira de ser. Lutar contra isso deveria ser o primeiro passo. Quando e se operares essa mudança em ti, a tua relação com os outros modificar-se-á inevitavelmente, e só aí poderás começar a ajudar a mudar o mundo para melhor. Não há volta a dar-lhe. O processo tem de começar em ti e continuar em "ti <-> outros". Os tais sentimentos de culpa, Sweetjane, só perduram enquanto nós sabemos, interiormente, de forma mais ou menos consciente, que NÃO estamos a fazer aquele trabalho. Então lá vamos comprar a revista CAIS, porque parece que há uns senhores cujo objecto social é fazer aquele trabalho interior de que Gandhi nos incumbiu por nós.

Ora, outsourcing de nos tornarmos melhores pessoas é uma figura que não existe.

Se não melhoramos como pessoas (e melhorarmos não é fazermos constar que estamos a par das desgraças que por aí existem, por mais autêntica que seja essa consciência), então o mundo não vai melhorar. Faz impressão, e até desanima atacar um problema que é tão grande numa perspectiva tão pequenina (a do ser individual). Mas aí é que ele se pode realmente ser atacado: se reparares, na esfera da tua pessoa e dos teus comportamentos tens controlo absoluto do que acontece; isso não se passa em nenhum outro cenário.

Mais uma vez trazes à liça a questão da felicidade, no contexto destas matérias. Desinterlacemos de uma vez por todas o problema da felicidade do da nossa consciência acerca das desgraças do Mundo. De contrário, ninguém que não seja perverso vai conseguir algum dia ser feliz. Porque desgraças no Mundo vão existir sempre. E sobre a felicidade já temos uns quantos posts interessantes.

Agora apetecia-me comer bolachas. Mas isso agora não vem ao caso.

domingo, 28 de janeiro de 2007

Mixed Feelings

O

lá blog! Saudades do dono, tinha? Tinha? A tia Sweetjane é má para ele? Tadiiiiinho...

Estou de volta ao blog. De volta aos posts, melhor dizendo. Porque estive em cima deste blog ao longo dos últimos 10 dias como areia no deserto. Tudo para mudar a cara deste blog. Resultado? Mixed feelings. Sweetjane e os leitores dirão se valeu a pena o esforço. Eu cá... ainda não sei bem. Está estreitinho, não está? E cada testamento de Sweetjane mede agora uns bons 3 metros... Hum...

(Aviso a Sweetjane: não uses mais o texto destacado estilo revista; não percebi ainda porquê, mas este novo template não simpatiza com a programação do destaque do texto. Não voltes a utilizar até eu dizer, OK?)

Tenho muitos posts para ler, muita coisa em atraso. Mas estava cansado de blogs com a mesma cara deste, mas sem a sabedoria deste. Fui entrevistar grandes figuras da Sabedoria para as poder citar na nova face deste blog, como Nietzsche e Claudia Schiffer. Mas tudo isto à custa de pouco tempo dedicado à leitura e à escrita no blog... Sim, porque eu não tenho quatro manitas.

Em consequência deste (só aparente) afastamento, comecei a receber 30 mails por dia de Sweetjane, que ameaçava matar-se se eu não voltasse rapidamente ao blog. No meu telemóvel, brotaram também curtas mensagens de terror de uma nossa leitora - uma tal de Alexandra - acusando este blog de tudo o que o Código Penal prevê. Também reparei que o meu nome é usado a torto e a direito na shoutbox "Wisdom Overdose", sem que eu tenha alguma coisa a ver com isso... Ser famoso tem os seus custos.

Só agora fui rever a distribuição geográfica de leitores deste blog. My God, mas quem é esta gente? Leitores da China, da Colômbia, dos E.U.A., Brasil, Canadá... Não há dúvidas: a Sabedoria tem muita procura. Ainda bem.

(Se algum dos nossos leitores perceber de HTML, dê-me um toque. Para ver se me explica porque é que não consigo "arrumar" as componentes da barra lateral ou do footer dos posts através do interface do New Blogger. Seria muito simpático.)

É bom estar de volta.

sábado, 20 de janeiro de 2007

As leis fundamentais da estupidez humana - parte III

Segundo Cippolla o estúpido desconhece que o é, não sendo, consequentemente influenciado ou inibido pela percepção da própria estupidez. Tal aumenta exponencialmente o seu poder nocivo e devastador. Por outro lado, nem sempre é possível aos não estúpidos, avaliar correctamente a capacidade dos estúpidos para fazer estragos.

É nesta linha que a 4ª lei fundamental surge:

As pessoas não estúpidas substimam sempre o poder nocivo das pessoas estúpidas. Em particular, os não estúpidos esquecem-se constantemente que em qualquer momento, lugar e situação tratar e/ou associar-se com indivíduos estúpidos revela-se infalivelmente um erro que se paga muito caro (sic).

Giancarlo Livraghi (1996) diz, todavia, que tal pressuposto sugere que as pessoas não estúpidas são, afinal, um pouco estúpidas. Mas, pergunto eu, não serão, antes, um pouco crédulas? Porque no fundo estão a dar aos estúpidos a oportunidade de entrarem em acção (obtendo, assim um ganho), em seu próprio prejuízo (apesar de só mais tarde disso se darem conta). Aliás, é o próprio Cippolla que diz que os crédulos não reconhecem os estúpidos.A pessoa estúpida é o tipo de pessoa mais perigosa que existe.

Para terminar, vejamos a 5ª lei fundamental:

A pessoa estúpida é o tipo de pessoa mais perigosa que existe (sic).

O corolário desta lei é:

O estúpido é mais perigoso que o bandido (sic).


Porque será? Segundo Cippolla porque o ganho do bandido perfeito é exactamente igual ao prejuízo causado, tendendo para um equilibrio. Se todos fossemos bandidos perfeitos, toda a nossa existência se limitaria a”maciças transferências de riqueza e de bem-estar a favor dos que praticassem as acções”, o que, a acontecer por turnos regulares acabaria por provocar sempre benefícios indivíduais e também mais alargados. Já quando os estúpidos se dedicam a pôr em prática as suas irreflectidas acções, os prejuízos, que afectam todos, têm um impacto exponencial na sociedade, que caminhará a passos largos para o empobrecimento maciço. São mais perigosos que os bandidos, também graças a facto das suas acções serem absoluta e completamente imprevisíveis.

E depois de tudo isto, mais uma vez me pergunto se serei estúpida. É inevitável. É a pergunta que se impõe. Não sabendo exactamente responder, posso prever que não o devo ser, pelo menos completamente, porque, se o fosse não teria consciência disso. E bolas, às vezes creio que o sou, por isso, não devo na verdade sê-lo.

Mas sou um pouco perversa ou, dito de outra forma, bandida. Porque de ora em diante irei situar-me no eixo das ordenadas (Y) (que representa as vantagens que alguém retira das acções empreendidas por outros) para poder estar em situação de averiguar o efeito das acções dos outros sobre mim (relembro que o eixo das abcissas representa as vantagens de alguém, relativamente às acções que empreende). Desta forma posso perceber em que quadrante se situa predominantemente, quem me rodeia. Eh, Eh, Eh.


quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

De Uma Droga de Vida Para Uma Vida de Drogas



C

hega da vidinha normal e pequenina. Vou dedicar-me ao mundo das drogas.

Chega de coleguinhas irritantes, chega de chefes insuportáveis, chega de ordenados de sobrevivência indigente, e, sobretudo, chega de gente estúpida à tua volta, que é das coisas mais irritantes.

Ano novo, vida nova, e por isso "droga: aí vou eu!".

O mundo da droga é mais bonito que o nosso, de todos os dias, a começar pelas paisagens idílicas que proporciona, se pensarmos nos países fornecedores. No mundo da droga, tu reparas que qualquer dia é "casual day", e não há cá fatinhos-e-gravatinhas chapa 46, em homens que cada dia estão mais parecidos com mulheres, nem há cá mulheres que no nosso dia-a-dia se parecem cada vez mais com homens (às vezes até na barba). Não. No mundo da droga, onde eu agora vou entrar, e recomendo a todos, tu vestes super-casual, mas depois com o dinheiro que ganhas - que é bastante - podes comprar aquele acessório fantástico, aquele relógio especial, aquele anel fascinante, aquela jóia por que tanto ansiavas, que no fundo o que vão fazer é dar um chique ao teu visual.

No nosso dia-a-dia tu encontras muitas pessoas que querem ser chiques, mas, coitadas, nunca conseguem, apesar de terem alguns acessórios de marca. O problema que tu depois percebes é que os acessórios nessas pessoas, que não estão no mundo da droga, ao invés de as fazerem parecer chiques, fazem-nas parecer ou maricas ensebados - no caso dos homens - ou possidónias - no caso das mulheres. Ora, isto não sucede no mundo da droga: no mundo da droga, tu tens sempre bom aspecto ao mesmo tempo que vestes roupas confortáveis, e que por sua vez conferem aos teus acessórios uma outra presença, mais realçada e mais fascinante, com a vantagem de não pareceres nem maricas, nem possidónia.

No mundo da droga, onde eu agora vou entrar, e recomendo a todos, tu vestes super-casual, mas depois com o dinheiro que ganhas - que é bastante - podes comprar aquele acessório fantástico, aquele relógio especial, aquele anel fascinante, aquela jóia por que tanto ansiavas, que no fundo o que vão fazer é dar um chique ao teu visual.


Como te deslocas para o trabalho? Ligeiro de passageiros Classe 1 na Via Verde? Ou vais na carreira, quando não faz greve? Ou vens na linha de Sintra? Ou tens a sorte de o Metro ter um túnel de acesso mesmo ao pé da tua casa?... Pois, mas no mundo da droga isto não pode ser, entendes? E não pode ser porque nem dá bom aspecto, nem te faz bem à saúde, nem à alma. Isso acontece porque quando vão muitas almas dentro duma carreira, ou quando ficam cá fora, porque a alma que devia ir a conduzir entrou de greve, começa-se a gerar um clima que não te faz bem, e que te tira o estilo todo, percebes? Por isso no mundo da droga o que se recomenda é deslocares-te para aqui e para ali numa vedeta Caravelle, com pelo menos dois motores Mercury. Não calculas o bem que isto te faz. Não se explica por palavras. Mar! Por mar, entendes? As estradinhas são para os romanos, com aquela história da macadamia, e mais não sei quê. E todos sabemos o que aconteceu ao Império dos romanos. Estradinhas não são para aqui.

Outra grande vantagem no mundo da droga é que tu podes chamar os amigos. Porque cada pessoa tem uma competência natural, o mundo da droga oferece-te várias carreiras que tu podes seguir, sendo que depois chamas amigos teus para preencher as outras. Agora diz-me onde é que consegues fazer isto lá no teu empregozito, onde só tens cobras à tua volta, e gente peçonhenta.

Quando estás à entrada, tu reparas que o mundo da droga tem basicamente 5 carreiras principais que tu vais seguir:

  • Produção - se és um tipo mais para o introspectivo, que gostas de estar no teu sítio sem que outros te chateiem, e se entrarem no teu sítio levam com um balázio que até andam à roda
  • Processamento - se tens uma queda para a Indústria
  • Comercialização - se o que gostas é de Marketing
  • Transporte - se gostas é de Logística
  • Lavagem de dinheiro - se gostas de Contabilidade, com a diferença, face àquele teu coleguinha tão simpático do ISCAL, de quereres ser rico para poderes fazer face às tuas despesas
Quer isto dizer que no mundo da droga tu começas a fazer a carreira que preferes, e chamas os teus amigos para preencher os lugares que faltam, de acordo com as tuas necessidades e as inclinações deles. Depois vem o dinheiro, que é uma maçada arranjar sítio onde guardar, porque é muito, mas arranja-se o que for necessário porque a vida não é só facilidades.

Espero ter começado a despertar em ti o bichinho do sucesso nas drogas, e que este seja o princípio de uma mudança também para ti.

Porque isto assim está impossível.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

As leis fundamentais da estupidez humana - parte II

O comportamento humano, segundo Cippolla, pode ser graficamente representado, conforme a figura mesmo aqui ao lado.
O eixo dos X (das abcissas) representa o benefício que o próprio retira das acções que empreende.
O eixo dos Y (das ordenadas) representa as vantagens (+) ou danos (-) que as acções do próprio trazem aos outros.

A pessoa cujas acções prejudicam os outros e a si própria, são, adivinhem, os estúpidos (quadrante inferior esquerdo). As pessoas cujas acções trazem elevados benefícios a si próprias à custa da desvantagem alheia, constituem os bandidos (quadrante inferior direito). As pessoas cujas acções trazem beneficios aos outros em detrimento dos seus próprios ganhos são os crédulos (há quem lhes chame os desgraçados ou os azarados) (quadrante superior esquerdo). Aqueles cuja acções procuram beneficiar a si próprios e também os outros, são verdadeiramente inteligentes (quadrante superior direito).

O desafio é cada um perceber em que quadrante melhor se encaixa. Tudo isto me serviu para tomar consciência de que de inteligente, desgraçado e bandido todos temos um pouco. Congratulo-me por perceber que não sou estúpida, mas um dos dramas dos tempos modernos tem que ver com o facto dos estúpidos jamais reconhecerem que o são e que qualuqer pessoa a qualquer momento pode revelar-se irremediavelmente estúpida (2ª lei fundamental). Isto origina um dilema bestial. Afinal, sou ou não sou estúpida?
Uma pessoa estúpida é uma pessoa que causa um dano a outra pessoa ou grupo de pessoas, sem que disso resulte alguma vantagem para si, ou podendo até vir a sofrer um prejuízo
O que é preciso é que eu perceba que tipo de acções empreendo, equacionar o seu impacto, em termos de beneficios ou danos causados a outro ou outros, para poder posicionar-me graficamente. Citando Cippolla, detalhemos alguns casos. Por exemplo, todos nós nos lembramos de situações em que infelizmente nos relacionámos com alguém que obteve um ganho causando-nos um prejuízo. Tal significa que nos deparámos com um bandido. Embora menos frequente, também não é impossível termo-nos cruzado alguma vez com alguém que tenha praticado uma acção cujo resultado nos foi benéfico, constituíndo um prejuízo para si próprio. Essa pessoa foi crédula, pobrezinha, mas isso não faz de nós bandidos. Sê-lo-iamos caso tivessemos sido nós a empreender a acção. Sem grande esforço (felizmente) também conseguimos recordar situações em que alguém empreendeu uma acção que foi benéfica para ambas as partes, revelando inteligência.
Faltam aquelas situações em que sofremos perdas de dinheiro, energia, tranquilidade e boa disposição, mercê das acções imponderadas e improváveis “de alguma absurda criatura que, nos momentos mais impensáveis e inconvenientes” (sic) nos causa danos e prejuízos sem que ganhe absolutamente nada com isso. Não existindo qualquer outra explicação, diz-nos Cippolla, a explicação é única: “a pessoa em questão é estúpida”.

Voltemos então às leis. A terceira lei fundamental da estupidez humana (também chamada a Lei de Ouro), é a mais importante, por ser aquela que define o estúpido ou a estúpida:

Uma pessoa estúpida é uma pessoa que causa um dano a outra pessoa ou grupo de pessoas, sem que disso resulte alguma vantagem para si, ou podendo até vir a sofrer um prejuízo (sic).

(continua)

sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

As leis fundamentais da estupidez humana (parte I)

Pergunto-me, não poucas vezes, e à revelia das explicações do foro psicológico, a que se deverá a persistência da perversidade, da maldade deliberada, da inesgotável capacidade de produção de decisões mal informadas e incompetentes, manifestada por tantas pessoas. Diz Giancarlo Livraghi (1996) (http://gandalf.it/stupid/portug.htm) que tendemos a culpar a perversidade intencional, a malícia astuta, a megalomania, e outros defeitos morais pelas más decisões (sic). Mas a verdade é que a explicação não reside aí. Este mesmo autor nos diz que a maioria dos terríveis erros produzidos pela história, se devem à mais pura e genuína estupidez, frequentemente com resultados devastadores.


Carlo M. Cipolla, um professor Historia Económica em Pisa e em Berkeley, publicou pela primeira vez, em Itália e e em boa hora (1988), uma pequena e deliciosa pérola designada As Leis Básicas da Estupidez Humana, no âmbito de uma obra intulada Allegro Ma Non Troppo. A primeira edição portuguesa, da CELTA Editores, data de 1993.

Cada um de nós substima sempre e inevitavelmente o número de indivíduos estúpidos em circulação.

Segundo aquele autor, os seres humanos confrontam-se com um fardo que torna as atribulações da sua vida, ainda mais penosas e acrescidas, comparativamente aos demais animais. Esse acréscimo de atribulação é causado por um grupo especial de indivíduos, também pertencente à espécie humana, grupo esse que, apesar de não organizado, é detentor de um poder devastador que muitas vezes , sem presidente ou líder, se manifesta de forma sintónica, complementar e transversal. Esse grupo tão poderoso é o grupo dos estúpidos. São 5 as leis fundamentais da estupidez humana, segundo Carlo Cippolla.


A primeira lei fundamental da estupidez humana, afirma, sem margem para dúvidas e sem qualquer piedade ou perversidade:


Cada um de nós substima sempre e inevitavelmente o número de indivíduos estúpidos em circulação (sic).


Ou seja, qualquer estimativa numérica ficará sempre aquém da realidade.


A segunda lei refere claramente que:


A probabilidade de uma certa pessoa ser estúpida é independente de qualquer outra característica dessa mesma pessoa (sic).


Portanto, não só as pessoas não são todas iguais como a estupidez é uma característica que ignora raças, credos, convicções, classes, género, ou outra coisa qualquer. Por outro lado, uma pessoa que julgámos racional pode revelar-se irremediavelmente estúpida, a qualquer momento.


(continua)

sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

2007: Uma Perspectiva – Juanito entrevista TONICCO

J

uanito – Boa tarde António.
Tonicco – Boas tardes.
J – Obrigado por me concederes estes 15 minutos. Sei que tens outras coisas em que pensar.
Tonicco – Deixa lá isso, não me importo nada. Por acaso agora não estava a fazer nada de mais.
J – Vou directo aos assuntos, então. 2006 está acabado, e..
Tonicco – Kaputt.
J - ..criámos o blog e acabou-se o QCA III.
Tonicco – É.
J – Como vês isto? Foi o final de um ano, ou o final de um período, de uma era?
Tonicco – Foi o final de um ano e também de uma era. Ainda bem que acabou, não tenho pena. Não me interessa nada.
J – Esta história do blog acabou por ser estranha para ti?
Tonicco – (pensativo) Estranha não. É só uma página na Internet, no fim de contas.
J – Sentes que as pessoas esperavam de ti outro tipo de participação?
Tonicco – Textos, queres tu dizer?
J – Outro tipo de contributos, coisas diferentes de “no início era o … A”, e posts desse género.
Tonicco – Tens de entender que os tempos são outros. Já não estamos no tempo da Julieta Silva, da Gabriela, dos e-mails anónimos ou enviados do PC do colega, sem ele saber. Tudo isso teve a sua época. Os bonecos antigos já não funcionam, eles morreram.
J – É ilegítimo dramatizar cenários com Rui Marrocos, ou com David Figueiras, em 2007?
Tonicco – Ilegítimo não, repara, mas o efeito, concordarás, está hoje em dia seriamente limitado. Não entendas isto mal, eu leio os teus trabalhos e vejo que ainda vais buscar Rui Marrocos, ou que ainda exploras o filão dramático da tensão do poder entre Sandra Almeida e Maria Fouto… Ainda gosto de ler, mas para os meus próprios textos, tu verificas que já não uso esses bonecos.
J – Pois não, usas o palhacete da MacDonald’s…
Tonicco – Porque é intemporal, repara.
J – O blog nasceu a meio de Novembro e registou 27 posts nesse mês. Em Dezembro – para o mês todo – ficou-se pelos 21. Como interpretas esta evolução?
Tonicco – O começo do declínio?...
J – Vais tentar, pela tua parte, contrabalançar essa tendência?
Tonicco – De modo nenhum. Não há grande paciência para ser contra a corrente. Se a tendência é para o declínio – não sei se é ou se não é… - temos mais a aprender aceitando a situação, e fluindo com ela.
J – Fluindo com a situação?
Tonicco – Correcto.
J – Como vês toda esta merda? Qual é a tua visão?
Tonicco – Vais ser mais específico?
J – Como vês tudo isto desde 1997 para cá… as pessoas com quem trabalhaste e com quem trabalhas hoje… esta história de gerir os dinheiros… estes Gabinetes… todas estas personagens…
Tonicco – Tenho sentimentos contrastantes em relação às personagens. Graficamente, os efeitos de partículas estão fantásticos, os efeitos de iluminação e outros elementos também são excelentes, mas para ser sincero algumas das figuras ainda podiam ser um pouco melhores. Eu reparei que, especialmente com alguns dos personagens masculinos, a parte superior dos corpos, e até algumas áreas da face pareciam um pouco artificiais, por vezes.
J – Achas Rui Marrocos uma figura de acção pouco realista?
Tonicco – Admito que os vasos sanguíneos e a textura da carne sob a pele fazem um efeito mais realista. Já o cabelo, por exemplo, é um pouco falso, é estranho, está ali qualquer coisa mal feita.
J – E quanto a Susanna Vale, a figura de acção que está mais esgotada nas lojas?
Tonicco – As roupas estão bem, são cómicas, mas repara que nunca dá a sensação de se molharem, ou de qualquer outra maneira reagirem ao ambiente. Isso ao fim de um tempo também soa a falso, embora possas não reparar logo ao início.

(...)Não faz sentido estares duas horas numa reunião com Susanna Vale sem teres a possibilidade de a atirares através de uma janela. E não me venham dizer que isso não se pôde fazer até agora por limitações gráficas"


J – O que gostavas de ver no futuro?
Tonicco – No meu próximo emprego gostava de ver arenas maiores, para começar. E mais interactividade: não faz sentido estares duas horas numa reunião com Susanna Vale sem teres a possibilidade de a atirares através de uma janela. E não me venham dizer que isso não se pôde fazer até agora por limitações gráficas; hoje em dia há placas gráficas que fazem autênticos milagres.
J – Sentes portanto que até agora tem faltado qualquer coisa…
Tonicco – Julgo que é óbvio... Aceito perfeitamente ter de ir visitar um projecto qualquer no meio de nenhures, mas devo ter uma combinação de teclas qualquer que me permita deitar a Maria do Carmo Nunes da pontezinha da aldeia abaixo… são só exemplos, percebes?, não quer dizer que tenham de ser exactamente estas novidades e não outras… são só ideias.
J – No fundo, queres mais interactividade, é isso.
Tonicco – Mais interactividade com o meio e com os personagens. Eu sei que são artificiais, mas isso não deve impedir que possa ser gratificante interagir com eles.
J – No passado eu próprio me queixei dos movimentos de Rui Marrocos.
Tonicco – E compreende-se! Faltam-lhe movimentos especiais. Não tem nem um. A certa altura circulou um rumor de que se carregasses em “X” e em “triângulo”, o Rui Marrocos bolsava. Tentei um milhão de vezes, até perceber que era mentira. O que se passava era que carregando em “X” e em “triângulo” o Rui Marrocos dizia um disparate qualquer, e quem bolsava era quem estava à frente dele. E repara que muitas vezes nem precisavas de fazer a combinação de teclas, já que ele dizia um disparate mesmo sem tu fazeres nada.
J – Sê sincero: vale a pena continuar a investir nestes personagens, ou há que largá-los de uma vez e partir para soluções novas?
Tonicco – Há coisas a aprender, e que não se perderam: os efeitos de luz no rabo da Ana Matos, se ela estava com roupas pretas, eram do melhor que se faz, em qualquer plataforma. Quase conseguias ver a calha fluorescente do tecto reflectida nas curvas das nádegas. Efeitos como estes, apelativos para quem vê, podem e devem ser aproveitados para o futuro. Vão para além de questões técnicas; são belos porque roçam a arte. E tu próprio tens vontade de te roçar neles. Super Mario Bros. nunca te deu esta vontade! (risos)…
J – Quando entrámos, em 1997, falava-se de uma personagem oculta, que era possível desbloquear. Como encaras esse dado: lenda urbana?
Tonicco – De modo nenhum. No meu entender, a personagem a desbloquear és tu próprio, quando chegas ao fim (ou antes disso - melhor ainda) e te apercebes da porcaria em que estás. Aí tornas-te outra personagem, e, no fundo, desbloqueias. Não é lenda, é real, no fim de contas.
J – Então vês isso como um bónus, que pode fazer com que no final valha a pena?
Tonicco – Pode ser, ou pode não ser. Se desbloqueias a personagem oculta, mas não ganhas o movimento especial – que é o que te permite sair – então só agrava a situação para o teu lado. Talvez seja preferível, nesse caso, não desbloqueares.
J – Sabes de casos concretos?
Tonicco – Com certeza, sei os casos clássicos. Maria Fouto desbloqueou a personagem oculta, mas não ganhou o movimento especial – pelo contrário, até parece que houve combinações de teclas que deixaram de funcionar; por outro lado, Rui Marrocos, todos sabem, jamais desbloqueou a personagem oculta.
J – Na tua opinião, fazia ou não sentido ganhar roupas novas sempre que se desbloqueasse a personagem oculta?
Tonicco – Fui várias vezes questionado acerca disso. Sou da opinião contrária, pelo menos para alguns casos: personagens como Mafalda Santos ou como Ana Matos, à medida que se desenvolviam deveriam perder roupas, e não ganhar roupas novas. Mas lá está, noutros casos… seria uma bênção se Rui Marrocos desbloqueasse roupas novas!, mas compreendo que a programação tenha de ser igual para todos os personagens.
J – Que esperanças tens de que estes melhoramentos que preconizas sejam adoptados no futuro?
Tonicco – Gosto de dar a minha opinião. Se a seguirem, ficarei contente. Senão… continuo a jogar na mesma.
J – Obrigado, António. Sabes que este será o primeiro post de 2007 no blog?
Tonicco – Força, que seja um bom começo.

©3FIDS-2007

quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

A ANATOMIA DE FOUTO - Episódio 2



E
difício IGUAL – Junto aos elevadores - Dia – Rui Antunes vai roendo uma alheira de Mirandela à frente do elevador, quando Maria João e Sandra Almeida emergem de uma porta adjacente. Antunes questiona com ansiedade Maria João acerca da primeira vez desta a segurar um coração. Maria João ignora-o. António Sousa junta-se ao grupo e refere que “só vê-la a fazer aquilo já foi uma tripe”. Maria João parece alheada. A campainha do elevador toca e Maria João e António Sousa entram. Rui Antunes nota a estranha disposição de Maria João, mas continua a roer a chouriça. Um contínuo alerta Antunes para o facto de a sua pausa estar quase no fim, e este pergunta as horas a Maria João, que lhe diz ter perdido o relógio de pulso há tempos. Antunes despede-se, de boca cheia, com um “então até mais loguinho”. As portas do elevador fecham-se.

IGUAL - Elevador - Dia – António Sousa pergunta a Maria João se o relógio que ela perdeu era aquele VibraMaster 9000 de pulso, com alarme vibratório, que Sousa já lhe tinha cobiçado. Maria João confirma, desinteressada, e muda rapidamente de assunto, confessando a António Sousa que pensa poder ter feito alguma coisa ao coração de Roberta Santos enquanto o segurava. Maria João conta que de repente “bateu um soninho” e que lhe parece que pode ter apertado o coração. António Sousa refere que o coração é um músculo forte, e que aguenta um apertão ou outro. Entredentes, Sousa deixa escapar que até o dele já levou apertões valentes. Maria João confessa que furou o latex da luva de cirurgia e questiona Sousa sobre a possibilidade de ter “furado aquela cena do coração”. António Sousa sentencia que “se a sua amante pôs o coração a funcionar, então tudo está OK”. Maria João acha que deve contar o incidente a Ana Duvall, mas Sousa insiste que não há nada a contar, dado que Roberta Santos “parece estar fina”. Maria João acaba por concordar.

Créditos iniciais / Sequência de abertura
Tema original: “IGUAL Ao Litro” (performed by WE 3 KINGS)

Anatomia de Fouto

Plano aéreo da Avenida da República - Dia

IGUAL – Sala de análise de radiografias – Nuno Lima pede opinião a Rui Antunes. Estão a olhar para os raios-x do ciclista com o fémur fracturado. Embaraçado, Rui Antunes confessa estar proibido por António Sousa de emitir pareceres médicos. Intrigado, Nuno Lima pergunta-lhe porquê. Antunes relata, indignado, que teve uma discussão violenta com Sousa, durante a qual este deixou bem claro que considerava estar a emissão de pareceres médicos fora do âmbito funcional da lavagem dos pisos. Ao pretender dar uma pancadinha solidária nas costas de Rui Antunes, Nuno Lima mede mal a força, e deita Antunes ao chão, esfregonas, chouriça e tudo. Antunes fractura a perna direita, e jaz, no chão, gemendo de dores, em voz alta. Sandra Almeida entra de rompante na sala, convencida, pelos gemidos, de que Lima estaria a aproveitar-se de Antunes em hora de expediente. Quando se apercebe do que realmente aconteceu, manda vir dois contínuos e encaminha Rui Antunes para a Sala de Traumas. Sandra Almeida repara, então, nas radiografias que Lima e Antunes analisavam havia poucos instantes. Intrigada, questiona Lima sobre o porquê de este estar a analisar radiografias abdominais de um doente que tem o fémur partido. Lima esclarece que apenas está a fazer o que Ana Duvall mandou: “analisar as radiografias”. Olhando para o nome do doente impresso nos raios-x, “Adérito Lagos”, Sandra Almeida julga reconhecê-lo, mas não consegue recordar-se de quem se poderá tratar. Chama então António Sousa pelo pager.

IGUAL – Refeitório (vulgo sala do microondas) – António Sousa tenta colar uma colher de sopa embaciada à ponta do nariz, para gáudio de Leonor Ribeiro (toxicómana em recuperação, internada na IGUAL) que assiste, fascinada. O pager de António Sousa começa a tocar. Sousa resmunga impropérios, levanta-se e sai.

IGUAL – Sala de análise de radiografias – Sousa entra na sala, e pergunta com solenidade a Sandra Almeida qual é a emergência. Sandra Almeida questiona-o acerca da colher de sopa que traz pegada ao nariz. Atrapalhado, Sousa mete rapidamente a colher ao bolso, e esclarece que a questão da colher “é outra situação”. Sandra Almeida pergunta a Sousa se este reconhece o nome de Adérito Lagos. Sousa responde afirmativamente, informando que se tratou do seu primeiro paciente quando assumiu as funções de residente-chefe de Proctologia. Sousa recorda então com nostalgia a intervenção de 5 horas na qual procedeu à remoção da última secção do intestino delgado e à criação de um ânus artificial em Adérito Lagos. Sandra Almeida pergunta a Sousa quem foi o médico assistente à cirurgia, e Sousa confessa que fez quase tudo sozinho por falta de staff, mas que na parte final teve de pedir ajuda a Maria João, que o assistiu nos procedimentos de suturação. Sandra Almeida informa que Adérito Lagos deu entrada na IGUAL com o fémur partido, e conclui que as radiografias na parede devem ser as do pós-operatório da cirurgia de António Sousa, estando o mistério explicado. Não obstante, Sousa examina as radiografias e identifica uma massa estranha no antigo ânus de Adérito Lagos. Sousa informa que pretende operar novamente o paciente, pedindo que Sandra Almeida guarde segredo da cirurgia não programada perante Ana Duvall. Sandra Almeida aceita, em troca de dois comentários elogiosos que Sousa deveria proferir acerca dela quando Ana Duvall estivesse presente. Sousa, uma velha raposa, negoceia e consegue reduzir para um comentário elogioso. Nuno Lima, concluindo que a sua cirurgia ao fémur iria ser adiada, sai mais cedo.

IGUAL – Proctologia – Sala de operações - Dia – Meio grogue da anestesia, Adérito Lagos olha para cima e observa António Sousa preparando-se para o operar. Confuso, Lagos questiona António Sousa acerca das razões de estar novamente em Proctologia, prestes a ser operado, quando o que tem é um fémur partido. Sousa informa que a última operação “pode ter causado problemas, entendes, ó Lagos?”, e é isso que ele vai avaliar agora. Imediatamente antes de ficar inconsciente com a anestesia, Adérito Lagos ainda insulta Sousa por “não lhe deixar o rabo em paz”. Sousa profere, impassível, um soturno “Dorme, sacanita…” e dá início à intervenção cirúrgica.

IGUAL – Sala de doentes sob cuidados - Dia – Num quarto aberto com várias camas, Maria João está de pé e observa à distância Roberta Santos, deitada, conversando com o seu marido, que está sentado à sua cabeceira. O enfermeiro Garcia verifica os sinais vitais de Roberta. O marido, preocupado, procura tranquilizar-se junto do enfermeiro Garcia e pergunta-lhe se está tudo bem. Garcia responde que “os risquinhos brancos da máquina estão quase sempre no verde, e quando é assim a Doutora Ana Duvall disse que não há preocupações”. Mas estranhamente a opinião técnica de Garcia não é suficiente para que o marido de Roberta Santos se tranquilize. Maria João aproxima-se deles e apercebe-se da ansiedade do marido da paciente cujo coração ela tinha segurado nas mãos. Tentando confortar o casal, Maria João diz que cirurgia cardíaca é sempre delicada, mas que Roberta Santos deverá ficar bem.

IGUAL – Proctologia – Sala de operações - Dia – António Sousa examina o ânus original de Adérito Lagos, que suturara na primeira operação. No monitor da microcâmera, Sousa parece reconhecer um objecto, e esfrega os olhos, incrédulo. Manda chamar Sandra Almeida e pergunta-lhe se ela vê o mesmo que ele. Sandra confirma. Sousa faz então uma incisão de 10 centímetros e extrai do interior de Adérito Lagos aquilo que se assemelha a uma correia de pele, ensanguentada. Sandra Almeida pergunta-lhe se se trata de uma pulseira. Sousa informa que é um relógio. Após um silêncio incómodo, Sousa pormenoriza, declarando tratar-se de um “VibraMaster 9000 de pulso, com alarme vibratório… o Rolls-Royce da tecnologia vibratória de pulso”, refere, fascinado, e por momentos esquecido da circunstância que trouxe aquele objecto até às suas mãos. Sandra Almeida exige saber de onde o relógio pode ter vindo. António Sousa especula sobre a possibilidade de o relógio ser um "efeito secundário da sua cirurgia anterior", mas avisa enigmaticamente Sandra Almeida de que Maria João, que o havia assistido na suturação, “terá certamente esclarecimentos adicionais a prestar”.

IGUAL – Vestiário dos médicos residentes - Dia – Maria João está debruçada sobre o lavatório e passa a cara por água tentando acalmar-se. Deixa a água escorrer-lhe das faces, endireita-se e fita a sua imagem no espelho. Suspirando, deixa escapar um “Aaai, foda-se…” semi-abafado. Subitamente, Sandra Almeida irrompe pela porta.



Fim do 2º episódio.


quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

A ANATOMIA DE FOUTO - Episódio 1

C
asa de Maria João Fouto – Duche da casa-de-banho – Maria João está a tomar um duche e senta-se no fundo da banheira, enquanto água tépida lhe percorre o corpo.

Maria João (Voz off): Lembram-se quando eram pequenos e a vossa maior preocupação era, tipo, se iam ou não receber uma bicicleta nos anos, ou se ainda havia em casa um resto daquelas bolachas com recheio amarelo que pudessem comer ao pequeno-almoço... Ser adulta e trabalhar na IGUAL? Uma grande merda.

Edifício da IGUAL – Exterior – Dia – Maria João está na rua, já vestida, e caminha para a entrada do edifício.

Maria João (Voz off): Sejamos sinceros. Não se deixem enganar pelos tostões que agora vos pagam no emprego, e que dão para umas férias no estrangeiro uma vez por ano. Pelos sapatos caros que podem comprar, pelo sexo que podem fazer ou pela ausência dos vossos pais a mandarem em vocês. Ser adulta e trabalhar na IGUAL significa responsabilidade.

IGUAL – Interior - Dia – Maria João e Ana Duvall estão numa secretária e conversam acerca do futuro da IGUAL. Ana Duvall informa que tudo muda na vida, e que a IGUAL não foge à regra. Chegados ao final de 2006, e estando Duvall saturada do FSE, a IGUAL será agora um bloco médico-cirúrgico, e técnicos como Maria João serão a partir de agora médicos/cirurgiões, em substituição das antigas tarefas. Maria João está chocada. Tenta alertar Ana Duvall para o facto de as suas habilitações nada terem a ver com Medicina. Ana Duvall não parece preocupar-se, e tenta mostrar a Maria João o calendário das cirurgias já programadas.

Maria João (Voz off): Responsabilidade. Imprevisibilidade. Loucura. Foda-se.

Maria João pergunta como é possível Ana Duvall estar a informá-la só agora e já a ter destacada para uma cirurgia ao coração daí a algumas horas, segundo o calendário. Maria João pergunta a Ana Duvall se tem mesmo de ser ela a assegurar isso. Ana Duvall lamenta, mas chama a atenção de Maria João para o facto de António Sousa já estar completamente ocupado em Proctologia, de Sandra Almeida estar a preparar-se para remover um baço e de Nuno Lima estar a braços com a reconstituição do fémur de um ciclista que partiu a perna. Ana Duvall pergunta a Maria João se ela teria mesmo coragem para deixar uma cirurgia cardíaca unicamente nas mãos do enfermeiro Garcia.

Maria João (Voz off): Foda-se. Foda-se. Foda-se.

IGUAL – Sala de operações (antiga sala “Questões Gerais”) - Dia – Maria João está numa sala de operações com o enfermeiro Garcia. É suposto operarem o coração de uma mulher – “Roberta Santos”, de acordo com a ficha. O enfermeiro Garcia olha, alternadamente, para a paciente anestesiada e para Maria João. “O que é que fazemos agora, ó Doutora?!”, pergunta, desorientado.

Maria João (Voz off): Adultos têm de aturar loucuras de outros adultos. Adultos têm de fazer coisas que outros adultos lhes mandam fazer. Adultos têm de estar a certas horas em certos sítios. E fazer certas coisas. Mesmo que não as saibam fazer. Porque se tem de ganhar um ordenado. Para pagar a casa, o carro, a comida... Foda-se.

Sandra Almeida entra de rompante na sala. “Não faças nada!”, grita para Maria João. “Eu asseguro”, declara, afastando-a para o lado. Um pouco surpresa, Maria João pergunta-lhe se não era suposto ela estar a extrair um baço. “Já fiz”, dispara Sandra Almeida. “Mas como é que conseguiste?!” - Maria João parece não acreditar. Ainda ontem falavam acerca de visitas de acompanhamento a projectos de formação, e hoje Sandra Almeida está a dizer-lhe que extraiu um órgão a uma pessoa viva, em cirurgia. Sandra Almeida explica que não correu bem, e que depois de ter extraído o órgão, “aquilo era sangue por todos os lados”, e portanto o doente foi encaminhado para as emergências, que não são da responsabilidade dela. A sua responsabilidade – extrair o baço – foi cumprida. Como o paciente teve de ser levado para as urgências, ela acabou mais cedo, e pôde vir assegurar a cirurgia que estava a cargo de Maria João, “avançando-se assim mais rapidamente” nas cirurgias programadas. A intervenção cirúrgica inicia-se, e pelo menos aparentemente vai correndo bem, com Maria João a passar a Sandra Almeida os mais variados instrumentos - a princípio com atenção redobrada e muito cuidado, mas depois com crescente indiferença, ao verificar que também para Sandra Almeida é indiferente a utilização deste ou daquele utensílio cirúrgico. É uma questão de 20 minutos para Maria João estar a segurar nas suas mãos o coração de Roberta Santos. Num misto de ansiedade, pânico, e frustração profissional, Maria João começa a ter um ataque de sono, daqueles que dão lágrimas se se insiste em manter os olhos abertos. Por uns segundos, Maria João dormita e inclina-se para a direita, ainda com o coração de Roberta nas mãos. Sandra Almeida repara e pergunta a Maria João o que se passa. Maria João responde que a mão dela deslizou, mas parece preocupada enquanto se justifica. Sandra Almeida responde “Ah, OK, não há problema”, e dá a cirurgia por terminada. Diz então a Maria João que pode largar o coração na cavidade cardíaca, mas com muito cuidado. É o que Maria João faz.

Maria João (Voz off): Faz saudades das bicicletas e das bolachas com recheio amarelo, não faz?

Maria João parece preocupada após largar o coração. Olha para a luva da sua mão direita, esfrega os dedos um no outro e desvia a cara para o lado, escondendo um ar de preocupação.

IGUAL – Galeria de observação da sala de operações - Dia – António Sousa, Nuno Lima, Rui Antunes e o restante corpo médico residente observam o final da cirurgia através de uma parede de vidro. Rui Antunes fala sobre o seu desejo de segurar um coração. António Sousa, de bata, lembra-lhe que ele não é um residente como ele (Sousa), e apenas lhe está cometida a lavagem dos pisos. Antunes fica triste. Sousa desabafa confessando não compreender porque Ana Duvall, ou a própria Sandra Almeida, não o convidaram para a cirurgia cardíaca. O pager de António Sousa começa a tocar. Sousa resmunga impropérios, levanta-se e sai. Nuno Lima, observando atentamente a cirurgia, alerta para o facto de parecer haver um problema: “Não percebo nada disto, mas parece que aconteceu uma merda qualquer”, alerta.

IGUAL – Sala de operações (antiga sala “Questões Gerais”) - Dia – O coração da paciente não está a bater bem, e Sandra Almeida está a perder Roberta Santos, que entra em paragem cardíaca. “Bolas, não me digas que é o segundo doente que me vai morrer, e ainda não é meio-dia”, desabafa. Sandra Almeida manda Maria João massajar o coração, mas isso não funciona; aplica então um choque eléctrico, e o ritmo cardíaco é restabelecido. Sandra manda Maria João coser o corpo e manter a doente sob observação, e sai. Maria João olha para a luva da sua mão direita e verifica que a unha do seu indicador havia perfurado o latex.

Maria João (Voz off): A parte mais assustadora da responsabilidade? Quando tu fazes asneira.

Fim do 1º episódio



segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Finalmente, um provedor para o F.I.D.S.

Era

o passo lógico a dar. Era o sentido da evolução natural. Refiro-me à criação da figura do Provedor do F.I.D.S. .

Um provedor para este blog não poderia nunca ser uma pessoa qualquer. Por isso, dirigi um convite formal ao Professor Suspenso Freitas, PhD, no sentido de sondar a sua disponibilidade para o desempenho deste cargo. Tomei a minha decisão na sequência de um inteligente e tocante comentário da sua autoria que pude ler num recente post de sweetjane. Senti, nessa altura, que o contributo de alguém como o Professor Suspenso Freitas, PhD era precisamente o que faltava a este blog.

O currículo do Professor Suspenso Freitas, PhD é extenso demais para reproduzir neste ou em qualquer outro blog. A própria Internet tem dificuldades com o CV do Professor Suspenso Freitas, PhD. Para que se fique com uma ideia, o currículo do Professor Suspenso Freitas, PhD ocupa cerca de 15 TeraBytes em disco (versão sem gráficos), razão suficiente para jamais alguém o ter recebido por e-mail, por carta, ou por qualquer outro meio.

Pelo atrás exposto vou apontar apenas uma ou duas qualidades que reconheço neste homem notável, cujo capital de conhecimento em grande medida ultrapassa as capacidades da moderna banda larga. O Professor Suspenso Freitas, PhD simboliza, entroniza e cristaliza todo o corpo de conhecimento teórico-prático a respeito de todas as áreas em que é recém-licenciado. E as áreas não são poucas, dado que são todas.

O Professor Suspenso Freitas, PhD simboliza, entroniza e cristaliza todo o corpo de conhecimento teórico-prático a respeito de todas as áreas em que é recém-licenciado. E as áreas não são poucas, dado que são todas. Sim, o background académico do Professor Suspenso Freitas, PhD cobre todos os domínios de conhecimento; sim, o Professor Suspenso Freitas, PhD recém-licenciou-se em todas as licenciaturas que existem, estudando para todas ao mesmo tempo, "por uma questão de economia de tempo, e de segundos que iam passando e que vão ainda passar", refere, de modo incompreensível para os leigos.

Um provedor para este blog jamais poderia ser um homem facilmente impressionável. O Professor Suspenso Freitas, PhD é um homem que já viu tudo, apesar de jovem. Nada o impressiona, mas ele é impressionante. Nada o comove, dado que ele É as próprias emoções, e o tempo para as manifestar, medido em segundos que passam e que já passaram (?). O Professor Suspenso Freitas, PhD é alguém com um muito grande conjunto de recursos de estilo, e com um grande estilo na utilização desses recursos (Crazy Eight).

Procurando sempre não ser demasiadamente académico, o Professor Suspenso Freitas, PhD não anda, antes "caminha"; não censura, antes "apaga"; não se furta ao diálogo, antes "rejeita o ruído".

Armado de um arsenal de recursos de estilo que lhe são inatos, o Professor Suspenso Freitas, PhD não raras vezes sucumbe sob o peso de tal armamento, produzindo afirmações indesmentíveis, é certo, mas também idesmentíveis porque incompreensíveis.

Instado a traçar um auto-retrato, o Professor Suspenso Freitas, PhD disse a este blog ver-se como "um homem inapto procurando sempre fazer coisas inatas, desde que não invadam o seu espaço, tenham boas maneiras na discussão, e que o deixem falar só a ele".

Julgo tratar-se de uma personalidade acima de qualquer suspeita para desempenhar a função de Provedor deste blog. Por isso, o Professor Suspenso Freitas, PhD poderá de hoje em diante intervir a qualquer momento sobre qualquer assunto em qualquer post deste blog, a cada segundo que passe ou que vá passar ou que já passou.

Fica o aviso. Bem vindo, Professor.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

Um blog que enferruja

E

ste tempinho irrita-me. Irrita-me, porque sim, e porque faz este blog ficar mais lentinho das ideias. Este blog é o único que desacelera com a chuva. A chuva entranha-se neste blog, e não só faz as ideias babarem-se todas e derreterem, como se entranha nos próprios autores deste blog, que ficam super-emocionais, e mais não sei quê.

A chuva entra dentro dos autores deste blog, e faz-lhes subir as emoções; as boas e as más, tudo num arrazoado muito bonito de lágrimas que se confundem com chuva... de chuva que se confunde com lágrimas....

Pelo parágrafo merdoso que acabo de escrever, já estão a ver os efeitos perniciosos que a chuva tem sobre este blog. E por isso vou largar o assunto. O meu próximo objectivo neste blog é filmar a Maria João Fouto.

O meu próximo objectivo neste blog é filmar a Maria João Fouto. Alguns poderão não saber quem ela é, mas eu depois conto-vos. Estive para aqui a pensar e acho que a Maria João Fouto tem de ser filmada à exaustão e postada neste blog. Onde? A fazer o quê?, já estou a antecipar as vossas perguntas - não sei ainda.

Fará sentido andar com a Maria João Fouto por aí, nos centros comerciais, em bons restaurantes, em marinas, e filmá-la a dizer coisas? Que formato adoptar: deixá-la divagar por temas de sua escolha? Entrevistá-la? Filmá-la no duche? Há aqui ainda muito a decidir. Esta é mais uma ideia que não amadureceu ainda, que está babada, que está derretida por causa da chuva...

Será que a Maria João Fouto sabe fazer bolachas caseiras? Ora aí está um grande projecto: filmá-la a fazer bolachas caseiras, desde o início até ao fim.

(Pelo menos isto poderia entreter-nos até que a chuva acabe.)

segunda-feira, 27 de novembro de 2006

A Chave


I


nquieta-me ver este blog um pouco nostálgico a respeito das questões da procura da felicidade, e encontrá-lo por vezes angustiado com amargos de boca a respeito das bifurcações não viajadas dos caminhos da vida, como escreve Sweetjane.

"Beleza Americana" (Sam Mendes, 1999) tem uma resposta a dar a Sweetjane. Isto porque a sua história demonstra como um homem de quarenta anos consegue desmontar, ao contrário de todos os que o rodeiam, o puzzle da infelicidade. Porque enquanto existir puzzle, não haverá felicidade. A própria ideia de peças separadas, a própria ideia de enigma que tem de se decifrar é a antítese da tranquilidade atenta que é no fundo o espelho do estado de felicidade. Veja-se a personagem Carolyn Burnham (Annette Bening), como o exemplo perfeito da pessoa que toma a felicidade como uma receita, como um puzzle, como algo que se pode atingir desde que se sigam as instruções... E o que acontece? Quantas mais peças Carolyn tenta diligentemente encaixar no puzzle, mais e mais infeliz se vai sentindo. Sem nunca perceber porquê.

O mundo tem-nos agarrados pelo pescoço por um braço musculado de mal-entendidos; ele apresenta-nos, vende-nos, um modelo de bem-estar, de sucesso material e de aceitação social que, simplesmente, não conduz à felicidade. E são aqueles que, como Carolyn, mais investem, e mais laboriosamente trabalham essa teia duvidosa, os que mais cedo podem constatar a sua ineficácia. O marido de Carolyn, Lester Burnham (Kevin Spacey), é o homem de quarenta anos que descobre o que mais ninguém consegue descobrir: a chave para a sua felicidade. E fá-lo como? Abrindo mão do emprego, abrindo mão da mulher, e abrindo mão das fúteis tentativas de manter um ambiente (só) aparentemente normal dentro de casa. Mas sobretudo, Lester deixa-se intoxicar pela beleza, como primeiro passo para o alcançar da felicidade. O jovem filho do seu vizinho, um rapaz chamado Ricky Fitts (Wes Bentley) que é colega da filha de Lester, confessa, a meio da história, para vergonha daqueles de nós que são infelizes por uma questão de medo: "por vezes sinto que há tanta beleza no mundo, que temo que o meu coração possa simplesmente ceder". Inquieta-me ver este blog um pouco nostálgico a respeito das questões da procura da felicidade (...) como escreve Sweetjane

Afinal quem está mais bem informado? Sweetjane, ou Ricky Fitts? Quem tem razão: as crianças em carrinhos de bébé que ao passar por nós, pessoas estranhas, esboçam um sorriso profundo de uma certeza convicta de que a felicidade é possível?, ou pessoas como eu, que embora lhes retribuindo quase sempre o sorriso, sente por vezes uma espécie de pena, por já antecipar o processo a que o mundo as irá em breve submeter?

Em "Beleza Americana", Lester Burnham, numa espécie de estado de graça, tem visões de Angela Hayes (Mena Suvari), a jovem colega de escola da sua filha, no tecto do seu quarto. Angela surge a Lester sobre um lençol de rosas vermelhas, o seu corpo despido polvilhado de pétalas, na posição da cruz. Metáfora poderosa esta, a de que a redenção do homem se pode atingir pela felicidade, e não necessariamente pelo sofrimento. Isto porque a obsessão inicialmente quase infantil de Lester por Angela vem precisamente a ser a primeira pedra do (afinal curto) caminho da sua felicidade.

Por vicissitudes da história, Lester morre no final do filme. O seu corpo é encontrado na cozinha, baleado na cabeça, um espirro de sangue perturbando o branco homogéneo dos azulejos da parede. Quem o encontra é o rapaz Ricky Fitts, e a filha de Lester, Jane. Ricky é quem se aproxima do corpo, e se agacha junto à cara de Lester. Contagiado pela felicidade que o rosto de Lester irradia, Ricky não consegue evitar sentir-se uma vez mais contagiado pela beleza que existe no mundo, mesmo que desta vez estampada na cara de um amigo que acaba de morrer. Quase esboça ele próprio um sorriso, mas apressa-se a contê-lo, porque Jane não o iria compreender. Afinal de contas, é o pai dela que está ali, morto.

Articulando muito poucas palavras, Ricky Fitts explica-nos ao longo do filme que a felicidade é perfeitamente possível, embora não necessariamente sinónimo de uma colecção de momentos agradáveis ou de situações confortáveis. A curiosidade, a abertura de coração e a perda do medo são as grandes vias abertas para se ser feliz.

O que dizer então a Sweetjane , e aos de nós com inquietações semelhantes? Talvez apenas que a felicidade pode exigir algum esforço; mas que este será tantas vezes menor quanto maior for a nossa curiosidade por aquela.

quinta-feira, 23 de novembro de 2006

Socorro, não sou igual à Claudia Schiffer...


Claudia Schiffer ligou-me ontem para o telemóvel. Teve azar, porque eu estava em mensagens. Deixou-me um voicemail e eu depois liguei-lhe. Liguei-lhe, é como quem diz, mandei-lhe um kolmi para ela me ligar, porque da minha rede para a dela é um roubo. A pobre queria desabafar, porque parece que agora tem uma doida à perna que quer ser amiga dela à força toda, e só lhe liga para o móvel e para o fixo a toda a hora. Escreve num blog, segundo parece.

Aparentemente trata-se de uma mulher obcecada pelas hipóteses de mudança física, que acorda a pobre da Schiffer às 4 da manhã a colocar-lhe questões como "o teu cú foi pago a prestações, Claudia?", "Claudia, a felicidade de uma bela liposuccção infligida às gengivas é transitória?", "Não sejas egoísta, Claudia, e diz-me onde arranjaste essas nádegas".

Isto torna-se naturalmente aborrecido para a Schiffer, não só pelos horários absolutamente inconvenientes, mas até pelo facto de ela não falar português. As conversas tornam-se assim trocas mudas em que a pobre da Schiffer pouco mais diz do que "-Was?" "-Was?"... A doida em questão parece que escreve num blog, e coloca a Claudia Schiffer dilemas que chegam ao bizarro

A doida em questão parece que escreve num blog, e coloca a Claudia Schiffer dilemas que chegam ao bizarro. Segunda-feira às 7 da manhã lá tocou o móvel da Schiffer. "Guten morgen, Claudia", ouviu-se do outro lado, "Escuta, consideras aberrante uma intervenção que torne apenas a mama direita mais atrevida e apenas a nádega esquerda mais imponente? Acordei com esta ideia, o que te parece? Devo avançar?". "-Was?", foi o que a Schiffer pôde articular, ainda entaramelada da noite.

A sensação de impotência perante a inexorabilidade do tempo de que padece esta doida, e a sensação de impotência de Claudia perante o assédio de que é vítima, trazem a super-modelo agastada. Contagiada já em certa medida por estes medos e complexos, a Schiffer já denotou alguns comportamentos novos: procurando aproveitar ao máximo a sua beleza enquanto ela dura, e antes que se torne "velha e horrível e descaída e com cabelos brancos e desinteressante e velha e feia como uma pessoa que eu vim a conhecer" (como disse ao Frankfurter Allgemeine), Schiffer tem sido vista em bandos de jovens de 19 anos, pavoneando-se pela rua, nas praias, nas esplanadas, de umbigo à mostra, de tatuagens malandras e de piercings marotos. "Comecei a ter medo de ser mal amada", confessou a super-modelo. Isso, Schiffer, a cirurgia estética não cura.

sexta-feira, 17 de novembro de 2006

"Os blogs fazem mal à Internet" - Mary Johnson-Fogherty

"A merda dos blogs vai acabar." Foi assim que Mary Johnson-Fogherty, Presidente da Fundação Johnson-Fogherty, gelou a assistência do almoço-convívio com o grupo Empresários do Multimédia e das Novas Tecnologias, hoje, no Lisboa Fórum. Havia crepes de camarão.


Mary J-F centrou a sua intervenção na muito actual polémica dos blogs que se fartam de ocupar espaço na Internet. Sem meias palavras, muito cedo a perita tornou clara a sua posição: "Acabe-se já com essa merda", defendeu, sustentando que "(...) a este ritmo de pessoas a publicar posts nos blogs e a fazer comentários aos posts que outros já lá puseram, estimo que ainda antes de 2009 possam ocorrer em Portugal os primeiros casos de refluxo da Internet".

O refluxo da Internet é um fenómeno cuja existência muitos peritos contestam. Defendem algumas personalidades do sector - como Mary J-Fogherty - que é fisicamente possível que, por falta de espaço na Internet num dado momento, o envio de qualquer informação para a Web - os blogs são aqui um perigo sistematicamente apontado - pode resultar em transbordância física de uma workstation que esteja online, qualquer que ela seja (seja a do utilizador que enviou a informação para a Internet, ou qualquer outra, em qualquer parte do mundo). Explicando melhor, "(...) o computador, literalmente, começa a bolsar para a secretária aquilo que não coube na Internet", alertou M J-Fogherty, perante o silêncio perturbado dos profissionais do sector, e o choro de algumas crianças que se encontravam na assistência.

Mary Johnson-Fogherty aproveitou a ocasião para apresentar o mais novo produto da Divisão de Consumo da sua Fundação, já disponível no mercado: as "Fogherty Toalhitas", especialmente desenhadas "para limpar e absorver a informação babada dos computadores ligados à Internet".

O delegado da PT-Multimédia ao evento desafiou Mary Johnson-Fogherty a provar as suas afirmações, contestando que, em 27 anos de experiência, jamais tinha visto um computador de secretária "bolsar". O perito defendeu ainda que "computadores a 'babarem-se de informação' só pode ser uma brincadeira, uma ficção."

O mesmo delegado da PT Multimédia viria logo depois a reagir mal às duas balas calibre 9 que Mary J-Fogherty lhe disparou em direcção ao crânio, sendo quase unânime entre os presentes que aquele responsável morreu ainda antes de se voltar a sentar.

O resto da intervenção de Mary Johnson-Fogherty decorreu sem percalços, com a generalidade da audiência a mostrar total acordo face às outras teses que a oradora principal foi apresentando.

Mais almoços-convívio estão previstos ainda em 2006, dada a premência deste tipo de temas da Sociedade de Informação. "Alertar para estas merdas é fundamental", comentou Mary J-F, à saída do evento.