Tratava dos canários
Dava de comer à mula
Ficava imóvel meia-hora
Todas as manhãs
Todas as manhãs
Tratava dos canários
Dava de comer à mula
E ficava imóvel meia-hora
Nunca era premeditada essa paragem de meia-hora
Nunca era premeditada essa paragem de meia-hora
Acontecia
Todas as manhãs
Talvez fosse a pausa depois de dar de comer à mula
Talvez fosse a pausa depois de dar de comer à mula
O momento que se escoava, lento
Parecia haver um tempo natural
Parecia haver um tempo natural
Desde que tratava dos canários
Até que dava de comer à mula
Não era nunca um problema
Não era nunca um problema
Passar dos canários
Para a mula
Acontecia
Acontecia
Todas as manhãs
Era a pausa
Era a pausa
Depois de dar de comer à mula
Que o aturdia
Uma pausa enorme
Sabia muito bem o que ia fazer a seguir
Uma pausa enorme
Sabia muito bem o que ia fazer a seguir
Sabia até muito bem
Sabia que a seguir ia ele comer
Sabia que a seguir ia ele comer
Depois de dar de comer à mula
Mas não conseguia mexer-se
Ficava imóvel meia-hora
Mas não conseguia mexer-se
Ficava imóvel meia-hora
Fixando o deserto
Por vezes fixando a adega
Outras vezes fixando a bomba do poço
Variava a direcção para onde calhava olhar
Por vezes fixando a adega
Outras vezes fixando a bomba do poço
Variava a direcção para onde calhava olhar
No momento em que a imobilidade o tolhia
Chegou ao ponto de ansiar por esse momento
Chegou ao ponto de ansiar por esse momento
Em que ficava imóvel meia-hora
Era o ponto alto da sua manhã
Tratava dos canários
Era o ponto alto da sua manhã
Tratava dos canários
Dava de comer à mula
Ficar imóvel meia-hora
by Sam Shepard - Motel Chronicles / Crónicas Americanas
1 comentário:
Este rapaz, o Sam Sherpard, é muito jeitosinho. Para além de agradável à vista (embora já bem entradote)e bom actor, também capta, em poesia, os momentos do quotidiano, neste caso, do quotidiano do nosso Juanito. Bravo!
Enviar um comentário