terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Livro do Dia


Obrigado pela sugestão de leitura, Juanito - é sempre bom saber quais os livros de cabeceira dos nossos camaradas.

Se sim Sim se não Não

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Resposta a SweetJane

N


ão desfazendo, és mesmo doida, Sweetjane.

Então não querem lá ver que ela para sublimar os sentimentos de culpa, o melhor que arranja é comprar a CAIS ao droguinhas entaramelado mais próximo, com olhos de carneiro mal morto? Please...

Ó Jane, eu também não sei qual é a receita para endireitar o mundo, mas tenho quase a certeza de que não passa pela revista CAIS. É cá um feeling.

Esse desconforto que dizes sentir em relação à situação menos favorecida de outros, se é sincero, será apenas sinal de que tens uma consciência. Perguntarás "e depois? Fico sentada em cima dessa consciência?"... Claro que não. Gandhi disse "sê a mudança que queres ver no Mundo." Ora, o mais bem-intencionado de nós sentirá sérias dificuldades em implementar esse comportamento, aparentemente tão simples (só aparentemente). Isto porque somos humanos, e extremamente vulneráveis à tentação perversa de repercutir para com os outros os comportamentos que neles mais criticamos, pela simples razão de que "foram eles quem começou". E deste modo a mediocridade, a má-criação, a antipatia e outros "pequenos holocaustos" (obrigado, P. Oliveira) florescem mesmo através de quem não os tem inscritos na sua maneira de ser. Lutar contra isso deveria ser o primeiro passo. Quando e se operares essa mudança em ti, a tua relação com os outros modificar-se-á inevitavelmente, e só aí poderás começar a ajudar a mudar o mundo para melhor. Não há volta a dar-lhe. O processo tem de começar em ti e continuar em "ti <-> outros". Os tais sentimentos de culpa, Sweetjane, só perduram enquanto nós sabemos, interiormente, de forma mais ou menos consciente, que NÃO estamos a fazer aquele trabalho. Então lá vamos comprar a revista CAIS, porque parece que há uns senhores cujo objecto social é fazer aquele trabalho interior de que Gandhi nos incumbiu por nós.

Ora, outsourcing de nos tornarmos melhores pessoas é uma figura que não existe.

Se não melhoramos como pessoas (e melhorarmos não é fazermos constar que estamos a par das desgraças que por aí existem, por mais autêntica que seja essa consciência), então o mundo não vai melhorar. Faz impressão, e até desanima atacar um problema que é tão grande numa perspectiva tão pequenina (a do ser individual). Mas aí é que ele se pode realmente ser atacado: se reparares, na esfera da tua pessoa e dos teus comportamentos tens controlo absoluto do que acontece; isso não se passa em nenhum outro cenário.

Mais uma vez trazes à liça a questão da felicidade, no contexto destas matérias. Desinterlacemos de uma vez por todas o problema da felicidade do da nossa consciência acerca das desgraças do Mundo. De contrário, ninguém que não seja perverso vai conseguir algum dia ser feliz. Porque desgraças no Mundo vão existir sempre. E sobre a felicidade já temos uns quantos posts interessantes.

Agora apetecia-me comer bolachas. Mas isso agora não vem ao caso.

domingo, 28 de janeiro de 2007

Mixed Feelings

O

lá blog! Saudades do dono, tinha? Tinha? A tia Sweetjane é má para ele? Tadiiiiinho...

Estou de volta ao blog. De volta aos posts, melhor dizendo. Porque estive em cima deste blog ao longo dos últimos 10 dias como areia no deserto. Tudo para mudar a cara deste blog. Resultado? Mixed feelings. Sweetjane e os leitores dirão se valeu a pena o esforço. Eu cá... ainda não sei bem. Está estreitinho, não está? E cada testamento de Sweetjane mede agora uns bons 3 metros... Hum...

(Aviso a Sweetjane: não uses mais o texto destacado estilo revista; não percebi ainda porquê, mas este novo template não simpatiza com a programação do destaque do texto. Não voltes a utilizar até eu dizer, OK?)

Tenho muitos posts para ler, muita coisa em atraso. Mas estava cansado de blogs com a mesma cara deste, mas sem a sabedoria deste. Fui entrevistar grandes figuras da Sabedoria para as poder citar na nova face deste blog, como Nietzsche e Claudia Schiffer. Mas tudo isto à custa de pouco tempo dedicado à leitura e à escrita no blog... Sim, porque eu não tenho quatro manitas.

Em consequência deste (só aparente) afastamento, comecei a receber 30 mails por dia de Sweetjane, que ameaçava matar-se se eu não voltasse rapidamente ao blog. No meu telemóvel, brotaram também curtas mensagens de terror de uma nossa leitora - uma tal de Alexandra - acusando este blog de tudo o que o Código Penal prevê. Também reparei que o meu nome é usado a torto e a direito na shoutbox "Wisdom Overdose", sem que eu tenha alguma coisa a ver com isso... Ser famoso tem os seus custos.

Só agora fui rever a distribuição geográfica de leitores deste blog. My God, mas quem é esta gente? Leitores da China, da Colômbia, dos E.U.A., Brasil, Canadá... Não há dúvidas: a Sabedoria tem muita procura. Ainda bem.

(Se algum dos nossos leitores perceber de HTML, dê-me um toque. Para ver se me explica porque é que não consigo "arrumar" as componentes da barra lateral ou do footer dos posts através do interface do New Blogger. Seria muito simpático.)

É bom estar de volta.

sábado, 27 de janeiro de 2007

Afinal a culpa é minha?

Sou uma previlegiada, sei que o sou, e sinto culpa por sê-lo. É uma culpa indefinida, neurótica, que resulta do confronto com o facto de outros terem vidas e situações muito piores que a minha. É uma culpa que tem que ver com a insegurança sobre o meu próprio valor e sobre as minhas conquistas. É uma culpa que tem que ver com a sensação de desmerecimento e com a baixa-auto-estima. Isto é muito tramado porque não me deixa apreciar completamente as coisas boas da vida.


Confronto todos os meus sucessos, conquistas, resultados positivos, com o facto de outros, menos afortunados, não poderem ou conseguirem tê-los. Como se afinal a culpa disso fosse minha. Tento sublimar esta culpa contribuindo para causas justas, enviando donativos para os Médicos do Mundo, dando sangue, comprando a revista CAIS. Não o faço apenas por solidariedade, mas também para conseguir sobreviver com mais saúde ao peso desta culpa miserável, que tanta insegurança me dá e que me impede verdadeiramente de usufruir de coisas boas. Falar aqui de algumas das minhas formas de lidar com esta culpa faz parte do processo de sublimação da dita. Ou será que apenas procuro legitimar essas opções transferindo para o exterior o locus de controle?


Esta “estranha forma de vida” agudiza-se, por exemplo, na quadra natalícia. Não sou capaz de comer calmamente um petisco especial, sem pensar nas pessoas que naquele momento estão na rua ao frio e com fome. Não ajudo a minha filha a adormecer, sem pensar que áquela hora estão milhares de crianças a passar frio, em Portugal. Não consigo inteiramente apreciar a alegria da minha filha com os presentes (a orgia de presentes) que recebe, sem pensar nas crianças que não têm um único presente para abrir áquela hora, naquele Natal. Bem sei que são dilemas muito burgueses. Mas o que é que eu hei de fazer?


Tenho vergonha de me sentir feliz e tenho medo da possibilidade de o ser, porque, no fundo no fundo, tenho medo de não merecer sê-lo.


Esta ambivalência, entre insegurança e presunção, empurra-me constantemente para comportamentos que traduzem a necessidade de provar que sou digna, que sou trabalhadora, que sou inteligente, que sou uma boa mãe, no fundo, provar que mereço a sorte que tenho. Tento provar que sou suficientemente boa, apavorada não só de que alguém afinal descubra que não o sou, mas ainda que o apregoe aos sete ventos.


Sobre os dilemas burgueses sobre a felicidade recordo o interessante contributo de Juanito, intitulado "A Chave".


sábado, 20 de janeiro de 2007

As leis fundamentais da estupidez humana - parte III

Segundo Cippolla o estúpido desconhece que o é, não sendo, consequentemente influenciado ou inibido pela percepção da própria estupidez. Tal aumenta exponencialmente o seu poder nocivo e devastador. Por outro lado, nem sempre é possível aos não estúpidos, avaliar correctamente a capacidade dos estúpidos para fazer estragos.

É nesta linha que a 4ª lei fundamental surge:

As pessoas não estúpidas substimam sempre o poder nocivo das pessoas estúpidas. Em particular, os não estúpidos esquecem-se constantemente que em qualquer momento, lugar e situação tratar e/ou associar-se com indivíduos estúpidos revela-se infalivelmente um erro que se paga muito caro (sic).

Giancarlo Livraghi (1996) diz, todavia, que tal pressuposto sugere que as pessoas não estúpidas são, afinal, um pouco estúpidas. Mas, pergunto eu, não serão, antes, um pouco crédulas? Porque no fundo estão a dar aos estúpidos a oportunidade de entrarem em acção (obtendo, assim um ganho), em seu próprio prejuízo (apesar de só mais tarde disso se darem conta). Aliás, é o próprio Cippolla que diz que os crédulos não reconhecem os estúpidos.A pessoa estúpida é o tipo de pessoa mais perigosa que existe.

Para terminar, vejamos a 5ª lei fundamental:

A pessoa estúpida é o tipo de pessoa mais perigosa que existe (sic).

O corolário desta lei é:

O estúpido é mais perigoso que o bandido (sic).


Porque será? Segundo Cippolla porque o ganho do bandido perfeito é exactamente igual ao prejuízo causado, tendendo para um equilibrio. Se todos fossemos bandidos perfeitos, toda a nossa existência se limitaria a”maciças transferências de riqueza e de bem-estar a favor dos que praticassem as acções”, o que, a acontecer por turnos regulares acabaria por provocar sempre benefícios indivíduais e também mais alargados. Já quando os estúpidos se dedicam a pôr em prática as suas irreflectidas acções, os prejuízos, que afectam todos, têm um impacto exponencial na sociedade, que caminhará a passos largos para o empobrecimento maciço. São mais perigosos que os bandidos, também graças a facto das suas acções serem absoluta e completamente imprevisíveis.

E depois de tudo isto, mais uma vez me pergunto se serei estúpida. É inevitável. É a pergunta que se impõe. Não sabendo exactamente responder, posso prever que não o devo ser, pelo menos completamente, porque, se o fosse não teria consciência disso. E bolas, às vezes creio que o sou, por isso, não devo na verdade sê-lo.

Mas sou um pouco perversa ou, dito de outra forma, bandida. Porque de ora em diante irei situar-me no eixo das ordenadas (Y) (que representa as vantagens que alguém retira das acções empreendidas por outros) para poder estar em situação de averiguar o efeito das acções dos outros sobre mim (relembro que o eixo das abcissas representa as vantagens de alguém, relativamente às acções que empreende). Desta forma posso perceber em que quadrante se situa predominantemente, quem me rodeia. Eh, Eh, Eh.


quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

De Uma Droga de Vida Para Uma Vida de Drogas



C

hega da vidinha normal e pequenina. Vou dedicar-me ao mundo das drogas.

Chega de coleguinhas irritantes, chega de chefes insuportáveis, chega de ordenados de sobrevivência indigente, e, sobretudo, chega de gente estúpida à tua volta, que é das coisas mais irritantes.

Ano novo, vida nova, e por isso "droga: aí vou eu!".

O mundo da droga é mais bonito que o nosso, de todos os dias, a começar pelas paisagens idílicas que proporciona, se pensarmos nos países fornecedores. No mundo da droga, tu reparas que qualquer dia é "casual day", e não há cá fatinhos-e-gravatinhas chapa 46, em homens que cada dia estão mais parecidos com mulheres, nem há cá mulheres que no nosso dia-a-dia se parecem cada vez mais com homens (às vezes até na barba). Não. No mundo da droga, onde eu agora vou entrar, e recomendo a todos, tu vestes super-casual, mas depois com o dinheiro que ganhas - que é bastante - podes comprar aquele acessório fantástico, aquele relógio especial, aquele anel fascinante, aquela jóia por que tanto ansiavas, que no fundo o que vão fazer é dar um chique ao teu visual.

No nosso dia-a-dia tu encontras muitas pessoas que querem ser chiques, mas, coitadas, nunca conseguem, apesar de terem alguns acessórios de marca. O problema que tu depois percebes é que os acessórios nessas pessoas, que não estão no mundo da droga, ao invés de as fazerem parecer chiques, fazem-nas parecer ou maricas ensebados - no caso dos homens - ou possidónias - no caso das mulheres. Ora, isto não sucede no mundo da droga: no mundo da droga, tu tens sempre bom aspecto ao mesmo tempo que vestes roupas confortáveis, e que por sua vez conferem aos teus acessórios uma outra presença, mais realçada e mais fascinante, com a vantagem de não pareceres nem maricas, nem possidónia.

No mundo da droga, onde eu agora vou entrar, e recomendo a todos, tu vestes super-casual, mas depois com o dinheiro que ganhas - que é bastante - podes comprar aquele acessório fantástico, aquele relógio especial, aquele anel fascinante, aquela jóia por que tanto ansiavas, que no fundo o que vão fazer é dar um chique ao teu visual.


Como te deslocas para o trabalho? Ligeiro de passageiros Classe 1 na Via Verde? Ou vais na carreira, quando não faz greve? Ou vens na linha de Sintra? Ou tens a sorte de o Metro ter um túnel de acesso mesmo ao pé da tua casa?... Pois, mas no mundo da droga isto não pode ser, entendes? E não pode ser porque nem dá bom aspecto, nem te faz bem à saúde, nem à alma. Isso acontece porque quando vão muitas almas dentro duma carreira, ou quando ficam cá fora, porque a alma que devia ir a conduzir entrou de greve, começa-se a gerar um clima que não te faz bem, e que te tira o estilo todo, percebes? Por isso no mundo da droga o que se recomenda é deslocares-te para aqui e para ali numa vedeta Caravelle, com pelo menos dois motores Mercury. Não calculas o bem que isto te faz. Não se explica por palavras. Mar! Por mar, entendes? As estradinhas são para os romanos, com aquela história da macadamia, e mais não sei quê. E todos sabemos o que aconteceu ao Império dos romanos. Estradinhas não são para aqui.

Outra grande vantagem no mundo da droga é que tu podes chamar os amigos. Porque cada pessoa tem uma competência natural, o mundo da droga oferece-te várias carreiras que tu podes seguir, sendo que depois chamas amigos teus para preencher as outras. Agora diz-me onde é que consegues fazer isto lá no teu empregozito, onde só tens cobras à tua volta, e gente peçonhenta.

Quando estás à entrada, tu reparas que o mundo da droga tem basicamente 5 carreiras principais que tu vais seguir:

  • Produção - se és um tipo mais para o introspectivo, que gostas de estar no teu sítio sem que outros te chateiem, e se entrarem no teu sítio levam com um balázio que até andam à roda
  • Processamento - se tens uma queda para a Indústria
  • Comercialização - se o que gostas é de Marketing
  • Transporte - se gostas é de Logística
  • Lavagem de dinheiro - se gostas de Contabilidade, com a diferença, face àquele teu coleguinha tão simpático do ISCAL, de quereres ser rico para poderes fazer face às tuas despesas
Quer isto dizer que no mundo da droga tu começas a fazer a carreira que preferes, e chamas os teus amigos para preencher os lugares que faltam, de acordo com as tuas necessidades e as inclinações deles. Depois vem o dinheiro, que é uma maçada arranjar sítio onde guardar, porque é muito, mas arranja-se o que for necessário porque a vida não é só facilidades.

Espero ter começado a despertar em ti o bichinho do sucesso nas drogas, e que este seja o princípio de uma mudança também para ti.

Porque isto assim está impossível.

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

3FIDS inaugura secção de Novas Tecnologias

E

sta nova rubrica do super-blog 3FIDS debruça-se sobre os mais recentes avanços da tecnologia.

Neste primeiro número, uma Xbox 360 embrulhada num cobertor:

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

As leis fundamentais da estupidez humana - parte II

O comportamento humano, segundo Cippolla, pode ser graficamente representado, conforme a figura mesmo aqui ao lado.
O eixo dos X (das abcissas) representa o benefício que o próprio retira das acções que empreende.
O eixo dos Y (das ordenadas) representa as vantagens (+) ou danos (-) que as acções do próprio trazem aos outros.

A pessoa cujas acções prejudicam os outros e a si própria, são, adivinhem, os estúpidos (quadrante inferior esquerdo). As pessoas cujas acções trazem elevados benefícios a si próprias à custa da desvantagem alheia, constituem os bandidos (quadrante inferior direito). As pessoas cujas acções trazem beneficios aos outros em detrimento dos seus próprios ganhos são os crédulos (há quem lhes chame os desgraçados ou os azarados) (quadrante superior esquerdo). Aqueles cuja acções procuram beneficiar a si próprios e também os outros, são verdadeiramente inteligentes (quadrante superior direito).

O desafio é cada um perceber em que quadrante melhor se encaixa. Tudo isto me serviu para tomar consciência de que de inteligente, desgraçado e bandido todos temos um pouco. Congratulo-me por perceber que não sou estúpida, mas um dos dramas dos tempos modernos tem que ver com o facto dos estúpidos jamais reconhecerem que o são e que qualuqer pessoa a qualquer momento pode revelar-se irremediavelmente estúpida (2ª lei fundamental). Isto origina um dilema bestial. Afinal, sou ou não sou estúpida?
Uma pessoa estúpida é uma pessoa que causa um dano a outra pessoa ou grupo de pessoas, sem que disso resulte alguma vantagem para si, ou podendo até vir a sofrer um prejuízo
O que é preciso é que eu perceba que tipo de acções empreendo, equacionar o seu impacto, em termos de beneficios ou danos causados a outro ou outros, para poder posicionar-me graficamente. Citando Cippolla, detalhemos alguns casos. Por exemplo, todos nós nos lembramos de situações em que infelizmente nos relacionámos com alguém que obteve um ganho causando-nos um prejuízo. Tal significa que nos deparámos com um bandido. Embora menos frequente, também não é impossível termo-nos cruzado alguma vez com alguém que tenha praticado uma acção cujo resultado nos foi benéfico, constituíndo um prejuízo para si próprio. Essa pessoa foi crédula, pobrezinha, mas isso não faz de nós bandidos. Sê-lo-iamos caso tivessemos sido nós a empreender a acção. Sem grande esforço (felizmente) também conseguimos recordar situações em que alguém empreendeu uma acção que foi benéfica para ambas as partes, revelando inteligência.
Faltam aquelas situações em que sofremos perdas de dinheiro, energia, tranquilidade e boa disposição, mercê das acções imponderadas e improváveis “de alguma absurda criatura que, nos momentos mais impensáveis e inconvenientes” (sic) nos causa danos e prejuízos sem que ganhe absolutamente nada com isso. Não existindo qualquer outra explicação, diz-nos Cippolla, a explicação é única: “a pessoa em questão é estúpida”.

Voltemos então às leis. A terceira lei fundamental da estupidez humana (também chamada a Lei de Ouro), é a mais importante, por ser aquela que define o estúpido ou a estúpida:

Uma pessoa estúpida é uma pessoa que causa um dano a outra pessoa ou grupo de pessoas, sem que disso resulte alguma vantagem para si, ou podendo até vir a sofrer um prejuízo (sic).

(continua)

sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

As leis fundamentais da estupidez humana (parte I)

Pergunto-me, não poucas vezes, e à revelia das explicações do foro psicológico, a que se deverá a persistência da perversidade, da maldade deliberada, da inesgotável capacidade de produção de decisões mal informadas e incompetentes, manifestada por tantas pessoas. Diz Giancarlo Livraghi (1996) (http://gandalf.it/stupid/portug.htm) que tendemos a culpar a perversidade intencional, a malícia astuta, a megalomania, e outros defeitos morais pelas más decisões (sic). Mas a verdade é que a explicação não reside aí. Este mesmo autor nos diz que a maioria dos terríveis erros produzidos pela história, se devem à mais pura e genuína estupidez, frequentemente com resultados devastadores.


Carlo M. Cipolla, um professor Historia Económica em Pisa e em Berkeley, publicou pela primeira vez, em Itália e e em boa hora (1988), uma pequena e deliciosa pérola designada As Leis Básicas da Estupidez Humana, no âmbito de uma obra intulada Allegro Ma Non Troppo. A primeira edição portuguesa, da CELTA Editores, data de 1993.

Cada um de nós substima sempre e inevitavelmente o número de indivíduos estúpidos em circulação.

Segundo aquele autor, os seres humanos confrontam-se com um fardo que torna as atribulações da sua vida, ainda mais penosas e acrescidas, comparativamente aos demais animais. Esse acréscimo de atribulação é causado por um grupo especial de indivíduos, também pertencente à espécie humana, grupo esse que, apesar de não organizado, é detentor de um poder devastador que muitas vezes , sem presidente ou líder, se manifesta de forma sintónica, complementar e transversal. Esse grupo tão poderoso é o grupo dos estúpidos. São 5 as leis fundamentais da estupidez humana, segundo Carlo Cippolla.


A primeira lei fundamental da estupidez humana, afirma, sem margem para dúvidas e sem qualquer piedade ou perversidade:


Cada um de nós substima sempre e inevitavelmente o número de indivíduos estúpidos em circulação (sic).


Ou seja, qualquer estimativa numérica ficará sempre aquém da realidade.


A segunda lei refere claramente que:


A probabilidade de uma certa pessoa ser estúpida é independente de qualquer outra característica dessa mesma pessoa (sic).


Portanto, não só as pessoas não são todas iguais como a estupidez é uma característica que ignora raças, credos, convicções, classes, género, ou outra coisa qualquer. Por outro lado, uma pessoa que julgámos racional pode revelar-se irremediavelmente estúpida, a qualquer momento.


(continua)

sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

2007: Uma Perspectiva – Juanito entrevista TONICCO

J

uanito – Boa tarde António.
Tonicco – Boas tardes.
J – Obrigado por me concederes estes 15 minutos. Sei que tens outras coisas em que pensar.
Tonicco – Deixa lá isso, não me importo nada. Por acaso agora não estava a fazer nada de mais.
J – Vou directo aos assuntos, então. 2006 está acabado, e..
Tonicco – Kaputt.
J - ..criámos o blog e acabou-se o QCA III.
Tonicco – É.
J – Como vês isto? Foi o final de um ano, ou o final de um período, de uma era?
Tonicco – Foi o final de um ano e também de uma era. Ainda bem que acabou, não tenho pena. Não me interessa nada.
J – Esta história do blog acabou por ser estranha para ti?
Tonicco – (pensativo) Estranha não. É só uma página na Internet, no fim de contas.
J – Sentes que as pessoas esperavam de ti outro tipo de participação?
Tonicco – Textos, queres tu dizer?
J – Outro tipo de contributos, coisas diferentes de “no início era o … A”, e posts desse género.
Tonicco – Tens de entender que os tempos são outros. Já não estamos no tempo da Julieta Silva, da Gabriela, dos e-mails anónimos ou enviados do PC do colega, sem ele saber. Tudo isso teve a sua época. Os bonecos antigos já não funcionam, eles morreram.
J – É ilegítimo dramatizar cenários com Rui Marrocos, ou com David Figueiras, em 2007?
Tonicco – Ilegítimo não, repara, mas o efeito, concordarás, está hoje em dia seriamente limitado. Não entendas isto mal, eu leio os teus trabalhos e vejo que ainda vais buscar Rui Marrocos, ou que ainda exploras o filão dramático da tensão do poder entre Sandra Almeida e Maria Fouto… Ainda gosto de ler, mas para os meus próprios textos, tu verificas que já não uso esses bonecos.
J – Pois não, usas o palhacete da MacDonald’s…
Tonicco – Porque é intemporal, repara.
J – O blog nasceu a meio de Novembro e registou 27 posts nesse mês. Em Dezembro – para o mês todo – ficou-se pelos 21. Como interpretas esta evolução?
Tonicco – O começo do declínio?...
J – Vais tentar, pela tua parte, contrabalançar essa tendência?
Tonicco – De modo nenhum. Não há grande paciência para ser contra a corrente. Se a tendência é para o declínio – não sei se é ou se não é… - temos mais a aprender aceitando a situação, e fluindo com ela.
J – Fluindo com a situação?
Tonicco – Correcto.
J – Como vês toda esta merda? Qual é a tua visão?
Tonicco – Vais ser mais específico?
J – Como vês tudo isto desde 1997 para cá… as pessoas com quem trabalhaste e com quem trabalhas hoje… esta história de gerir os dinheiros… estes Gabinetes… todas estas personagens…
Tonicco – Tenho sentimentos contrastantes em relação às personagens. Graficamente, os efeitos de partículas estão fantásticos, os efeitos de iluminação e outros elementos também são excelentes, mas para ser sincero algumas das figuras ainda podiam ser um pouco melhores. Eu reparei que, especialmente com alguns dos personagens masculinos, a parte superior dos corpos, e até algumas áreas da face pareciam um pouco artificiais, por vezes.
J – Achas Rui Marrocos uma figura de acção pouco realista?
Tonicco – Admito que os vasos sanguíneos e a textura da carne sob a pele fazem um efeito mais realista. Já o cabelo, por exemplo, é um pouco falso, é estranho, está ali qualquer coisa mal feita.
J – E quanto a Susanna Vale, a figura de acção que está mais esgotada nas lojas?
Tonicco – As roupas estão bem, são cómicas, mas repara que nunca dá a sensação de se molharem, ou de qualquer outra maneira reagirem ao ambiente. Isso ao fim de um tempo também soa a falso, embora possas não reparar logo ao início.

(...)Não faz sentido estares duas horas numa reunião com Susanna Vale sem teres a possibilidade de a atirares através de uma janela. E não me venham dizer que isso não se pôde fazer até agora por limitações gráficas"


J – O que gostavas de ver no futuro?
Tonicco – No meu próximo emprego gostava de ver arenas maiores, para começar. E mais interactividade: não faz sentido estares duas horas numa reunião com Susanna Vale sem teres a possibilidade de a atirares através de uma janela. E não me venham dizer que isso não se pôde fazer até agora por limitações gráficas; hoje em dia há placas gráficas que fazem autênticos milagres.
J – Sentes portanto que até agora tem faltado qualquer coisa…
Tonicco – Julgo que é óbvio... Aceito perfeitamente ter de ir visitar um projecto qualquer no meio de nenhures, mas devo ter uma combinação de teclas qualquer que me permita deitar a Maria do Carmo Nunes da pontezinha da aldeia abaixo… são só exemplos, percebes?, não quer dizer que tenham de ser exactamente estas novidades e não outras… são só ideias.
J – No fundo, queres mais interactividade, é isso.
Tonicco – Mais interactividade com o meio e com os personagens. Eu sei que são artificiais, mas isso não deve impedir que possa ser gratificante interagir com eles.
J – No passado eu próprio me queixei dos movimentos de Rui Marrocos.
Tonicco – E compreende-se! Faltam-lhe movimentos especiais. Não tem nem um. A certa altura circulou um rumor de que se carregasses em “X” e em “triângulo”, o Rui Marrocos bolsava. Tentei um milhão de vezes, até perceber que era mentira. O que se passava era que carregando em “X” e em “triângulo” o Rui Marrocos dizia um disparate qualquer, e quem bolsava era quem estava à frente dele. E repara que muitas vezes nem precisavas de fazer a combinação de teclas, já que ele dizia um disparate mesmo sem tu fazeres nada.
J – Sê sincero: vale a pena continuar a investir nestes personagens, ou há que largá-los de uma vez e partir para soluções novas?
Tonicco – Há coisas a aprender, e que não se perderam: os efeitos de luz no rabo da Ana Matos, se ela estava com roupas pretas, eram do melhor que se faz, em qualquer plataforma. Quase conseguias ver a calha fluorescente do tecto reflectida nas curvas das nádegas. Efeitos como estes, apelativos para quem vê, podem e devem ser aproveitados para o futuro. Vão para além de questões técnicas; são belos porque roçam a arte. E tu próprio tens vontade de te roçar neles. Super Mario Bros. nunca te deu esta vontade! (risos)…
J – Quando entrámos, em 1997, falava-se de uma personagem oculta, que era possível desbloquear. Como encaras esse dado: lenda urbana?
Tonicco – De modo nenhum. No meu entender, a personagem a desbloquear és tu próprio, quando chegas ao fim (ou antes disso - melhor ainda) e te apercebes da porcaria em que estás. Aí tornas-te outra personagem, e, no fundo, desbloqueias. Não é lenda, é real, no fim de contas.
J – Então vês isso como um bónus, que pode fazer com que no final valha a pena?
Tonicco – Pode ser, ou pode não ser. Se desbloqueias a personagem oculta, mas não ganhas o movimento especial – que é o que te permite sair – então só agrava a situação para o teu lado. Talvez seja preferível, nesse caso, não desbloqueares.
J – Sabes de casos concretos?
Tonicco – Com certeza, sei os casos clássicos. Maria Fouto desbloqueou a personagem oculta, mas não ganhou o movimento especial – pelo contrário, até parece que houve combinações de teclas que deixaram de funcionar; por outro lado, Rui Marrocos, todos sabem, jamais desbloqueou a personagem oculta.
J – Na tua opinião, fazia ou não sentido ganhar roupas novas sempre que se desbloqueasse a personagem oculta?
Tonicco – Fui várias vezes questionado acerca disso. Sou da opinião contrária, pelo menos para alguns casos: personagens como Mafalda Santos ou como Ana Matos, à medida que se desenvolviam deveriam perder roupas, e não ganhar roupas novas. Mas lá está, noutros casos… seria uma bênção se Rui Marrocos desbloqueasse roupas novas!, mas compreendo que a programação tenha de ser igual para todos os personagens.
J – Que esperanças tens de que estes melhoramentos que preconizas sejam adoptados no futuro?
Tonicco – Gosto de dar a minha opinião. Se a seguirem, ficarei contente. Senão… continuo a jogar na mesma.
J – Obrigado, António. Sabes que este será o primeiro post de 2007 no blog?
Tonicco – Força, que seja um bom começo.

©3FIDS-2007