segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Tudo ficava em ruínas.....

A noite e a madrugada tinham sido muito cansativas porque ela entrou naquelas conversas graves com que já vinha a ameaçar "tu és assim...tu fazes assim...". Quando um entra nisso é muito difícil ao outro ficar de fora, porque ficar de fora é reconhecer logo que nada é já recuperável. Metido nesse diálogo suicida, tive bem consciência do que ele tinha de infantil: há pouco mais de um ano que, em Paris, ficamos encantados com aquele amor que, do cimo do acaso, nos tinha caído nas mãos mas, como as crianças, estávamos a desmanchá-lo para ver como funciona por dentro. Irresponsáveis, estávamos a estragar o presente que o destino nos dera e que, ao longo daqueles meses, tinha sido a nossa força, o nosso recreio e o nosso calor. A certa altura dei-me conta de que, de repente, tudo ficava em ruínas, impossível de reconstruir.

António Alçada Baptista, O riso de Deus

1 comentário:

Filipe disse...

As leis do amor são implacáveis.