quinta-feira, 26 de abril de 2007

O país da não-inscrição

Um filósofo português escreveu que Portugal é o país da "não inscrição", ou seja, "nada se inscreve - na história ou na existência individual, na vida social ou no plano artístico".


O seu racíciocíno leva-o a considerar que o 25 de Abril "recusou" a inscrição, "no real", dos 48 anos de ditadura que o precederam. Não houve julgamentos de "Pides" nem de quaisquer outros responsáveis desse (antigo) regime.

Diz José Gil, e passo a citar:

"um imenso perdão recobriu com um véu a realidade repressiva, castradora, humilhante de onde provínhamos. Como se a exaltação afirmativa da Revolução pudesse varrer, de uma penada, esse passado negro. Assim se obliterou das consciências e da vida, a guerra colonial, as vexações, os crimes, a cultura do medo e da pequenez medíocre que o salazarismo engendrou. Mas não se constrói um branco (psíquico ou histórico), não se elimina o real e as forças que o produzem, sem que reapareçam aqui e ali, os mesmo ou outros estigmas que testemunham o que se quis apagar e que insiste em permanecer. Quando o luto não vem inscrever no real a perda de um laço afectivo (de uma força), o morto e a morte virão assombrar os vivos sem descanso".

José Gil, Portugal Hoje - O Medo de Existir

1 comentário:

Lua disse...

Nós Portugueses fizemos muita história! Tivemos presentes em grandes momentos. Acredito que ultimamente não temos feito muitas inscrições na história, só pelos piores motivos!

beijinhos