terça-feira, 13 de março de 2007

"Por falta de apoios, espantalho já não vai ao Guinness"


À


primeira vista, julguei que a notícia tivesse a ver com o acompanhamento do processo de despedimentos em massa na Administração Pública que o nosso Governo leva actualmente a cabo. Pensei que o título daria conta de que o Primeiro-Ministro se está a atrasar, sabendo-se que, a meio do mandato, ainda lhe falta pôr na rua um pouco mais de 69.000 pessoas para cumprir os ambiciosos objectivos que estabeleceu há coisa de dois anos atrás. O tempo começa a escassear, e o espantalho correria o risco de ”não ir ao Guiness”, em sentido metafórico.

Mas não. A notícia tem a ver com espantalhos normais, daqueles que vestem mal. Daí que eu tenha descoberto logo à terceira linha que a notícia não poderia ter a ver com José Sócrates. Então se eu falhei por ter percebido mal, porquê estar agora a escrever sobre a notícia? É que mesmo não tendo directamente a ver com o Primeiro-Ministro, não consigo deixar de pensar que a frase “Espantalho já não vai ao Guiness” resume extraordinariamente bem não só o estado actual do nosso país, como o estado psicológico da maioria dos portugueses.

De certo modo, estamos a tornar-nos num grande espantalho europeu, e resta-nos agora apostar (dentro do reduzido leque de possibilidades que se colocam a uma figura tão pouco polivalente como um espantalho) em diferenciar-nos pelo tamanho físico: Ena!, só de imaginar um dia sermos “o maior espantalho da Europa, ou talvez até do MUNDO!!”… A agro-pecuária francesa, a indústria alemã, a banca espanhola, todos eles vergados perante nós, reconhecendo humildemente: “Sim senhor, que grande espantalho tendes! É obra, temos de reconhecer!”. Tomem lá e embrulhem!, disto não sabem vocês fazer.

Refere a notícia que, no final da nona edição do “Macinhata Espanta”, no ano passado, as organizadoras do evento, cansadas e desiludidas, “(…) já nem sequer recolheram as centenas de espantalhos, espalhados pela freguesia. “Deixámo-los morrer como morrem os espantalhos: deitados no chão”, dizem, lamentando nunca ter havido a preocupação de colocar placas de localização do evento.” Com Portugal é a mesma coisa: parece nem sequer haver a preocupação de colocar placas de sinalização alertando para o facto de ainda existirem pessoas dentro do País. É que ainda sobram algumas, embora se reconheça que só atrapalham.

A emergência deste novo modelo de desenvolvimento para Portugal já tem, aqui e ali, os seus ecos. A espantalhofilia, como novo paradigma de especialização produtiva, parece encontrar apoio em personalidades como o Prof. César das Neves, que ainda ontem, no DN, alertava para o facto de os portugueses viverem excessivamente preocupados com realidades longínquas, que, bem vistas as coisas, não só não lhes dizem respeito, como também não têm impacto real nas suas vidas práticas. Os portugueses, elabora o Prof. César das Neves, preocupam-se em julgar sumariamente as acções de pessoas que não conhecem pessoalmente, de Bill Gates até membros do Governo, intoxicados que estão pela opinião em segunda mão de “comentadores” de autoridade questionável. O Prof. César das Neves prossegue indignando-se com o facto de qualquer “merceeiro” ou “taxista” se arrogar o direito de julgar acontecimentos que se passam lá muito longe, protagonizados por pessoas que nem o taxista nem o merceeiro conhecem. Não se limitando a criticar, o Prof. César das Neves ajuda a procurar uma via melhor, e é então que vem defender o regresso nostálgico a uma espécie de “media de proximidade”, referindo, a título de exemplo, a “botica da esquina”, onde, até há bem poucos anos atrás, bastava entrar para se ficar a saber tudo o que realmente importava para a vida de cada um. No fundo, digo eu, trata-se de desligar a CNN e ir mas é à Dona Aurélia.

Da tese do Prof. César das Neves à economia do espantalho que aflorei ao início, é um salto muito pequenino, mas que urge dar se queremos apanhar o nosso lugarzinho no grande comboio europeu (ainda que no vagão das mercadorias).

Num país onde menos de um terço da população activa tem o Ensino Secundário completo, o que o Prof. César das Neves parece vir propor é que ninguém vá além da sua chinela, e que cada um se preocupe mas é com o que lhe diz respeito, ou seja, com o que acontece no seu bairro, e com as pessoas que cada um conhece pessoalmente.

O país do maior espantalho do mundo, António Oliveira Salazar como “Grande Português”, o recentramento da opinião crítica dos portugueses no bairro de residência… Já não era sem tempo vermos começar a emergir um novo padrão de modernidade para Portugal.

2 comentários:

sweetjane disse...

Wilkomen, bienvenue, welcome...back. e que com que nível, juanito, com que nivel. Já não aguentava os telefonemas da Claudia Schiffer, a chamar por ti e tu moita. Os pedidos de várias famílias, reclamando o teu regresso e tu, moita. As saudades, enfim da tua maior fã, que bem tentou manter algum nível e regularidade sem grande sucesso, neste blog quasi moribundo, sofredor, pensou ela (ou seja eu) de uma irreparável crise de paixão que chega ao fim, passados que foram os 4 mesinhos da praxe. Alvíssaras, que o nosso menino voltou!

sweetjane disse...

Sobre o último tópico do post de juanito, recomendo a leitura do post intitulado "Petição contra o museu Salazar: uma ridícula bimbalhice" que está em

http://pauloquerido.net/2007/03/peticao_contra_o_museu_salazar_uma_ridicula_bimbalhice