quinta-feira, 29 de março de 2007

Quero ser pintora!

A minha filha de 4 anos já me diz o que quer ser quando for grande.


- Mamã, sabes o que quero ser quando for grande?

Respondo que não, perplexa pela determinação. Quando for grande, implica uma grande projecção temporal...ou teria sido uma expressão ouvida no infantário?

- Quero ser pintora!

Mais tarde percebi que na escolinha andavam a falar das profissões, e que o seu desejo já equacionava, ainda que incipiente, uma noção de futuro.

Mas depois pensei no quasi paradoxo entre profissão e vocação, para tantos de nós. Hoje creio que teria sido mais feliz se tivesse explorado mais as minhas vocações e os meus desejos. Podia ser hoje uma pintora (se tivesse dado asas a uma “vocação” que se manifestou por volta dos 14 anos) ou poderia hoje ser uma razoável pianista (não profissional, creio), se nessa mesma idade, tivesse dado ouvidos ao chamamento e tivesse sido mais convincente quando procurei persuadir os meus pais dessas mesmas ambições, chamamentos, vocações. Mas, na minha visão um pouco quadrada do mundo, herança de uma certa cultura sócio-educativa, não insisti muito. Foi pena, porque quando resolvi recorrer à orientação vocacional na escola secundária, os resultados (e fiz 3 testes em 3 momentos diferentes) foram sempre inconclusivos. Acabei por escolher um curso que não exerço e por exercer uma profissão para a qual não estudei.

E o mais incrível é que não só nunca imaginei onde estaria dali a 15 anos, como sou hoje incapaz de imaginar onde estarei daqui a outros 15. Talvez seja uma defesa contra frustrações específicas. Tenho por vezes a impressão de que a minha vida e as minhas opções, nomeadamente as profissionais, são tomadas em função de circunstâncias e não de factores objectivos e decisões conscientes. Não que me tenha dado mal. Sou relativamente bem sucedida. A sensação de frustração é mais “generalista”, porque nem se quer me posso queixar de má sorte.

Em compensação, aos 35 anos, comecei a aprender a tocar piano.

1 comentário:

kika disse...

adorei e quero um dia ter uma historia interessante como essa para contar.