sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

Ser ou não ser...suficientemente boa

Tenho 35 anos e ainda hoje me sinto intimidada pelas figuras de autoridade. Desde miúda que a ida para a escola era para mim um suplício. Durante muitos anos e desde a primeira classe (entrei para a escola com 5 anos e logo para a primeira classe) a ida diária para a escola provocava-me elevados níveis de ansiedade (embora nunca tenha dado parte fraca), cuja tradução física ia das cólicas às borboletas na barriga. Pelo receio de que me fossem apontados erros, pela sensação que tinha, de ser preciso sempre provar algo. Não algo que me valorizasse ou me fizesse sobressair em relação aos demais, mas o receio de falhar se fosse interpelada pelos professores. É risível, mas isto é um traço muito neurótico.

Ainda hoje sinto que devo algo a alguém. Ainda hoje sinto que raramente sou suficientemente boa (o que é uma grande treta porque sei que sou boa em muitas coisas, embora tantas vezes não consiga senti-lo), ainda hoje tenho uma necessidade de reconhecimento (e sinto que o mereço) e sofro sempre que este não chega. Ainda hoje idealizo as figuras de autoridade que me são mais próximas e me deprimo quando as desidealizo (o que invitavelmente acontece sempre, como é, aliás, natural).


Este funcionamento é conveniente para os patrões e para as chefias. Sabem porquê? Porque nos faz dar o nosso melhor ou ainda melhor do que isso, no desempenho das nossas funções e tarefas profissionais. Deste modo, os patrões e as chefias criam (nem que seja na sua cabeça) standards relativamente ao nosso desempenho baseados no nosso melhor, como se fossem standards de desempenho normal. Isto faz com que nunca valorizem expressamente o nosso trabalho, receando o desleixo. Isto significa que quando desempenhamos abaixo desses standards, mesmo que dentro de parâmetros ditos normais, ou suscitamos a ideia de falhanço ou julgamos que o fazemos ou sentimos que efectivamente falhámos.


Para nós também nos convém, pois permite-nos encontrar sempre um (outro) responsável pela nossa sensação de falhanço.


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